quinta-feira, 29 de abril de 2010

Teaser

Contemplem a Havis Amanda...


Trata-se da estátua de uma sereia, localizada na Praça do Mercado, em Kaartinkaupunki (adoro os nomes finlandeses), aqui em Helsinki. A amiga Wikipédia me contou que ela foi esculpida por Ville Vallgren, em 1906, em Paris, supostamente para simbolizar o renascimento de Helsinki, e colocada em seu atual logradouro em 1908.

Aparentemente, quando ela foi inaugurada, causou espécie na sociedade local. Alem de sua óbvia nudez, enxergaram uma certa vulgaridade – vai ver que os quatro leões marinhos babando em volta dela tiveram algo a ver com isso.

Eu passo todos os dias em frente da moça no caminho do trabalho.


Olharam bem?  Então aguardem...

terça-feira, 27 de abril de 2010

Kuva!

 
Transformação da paisagem em 17 dias!


domingo, 25 de abril de 2010

Depois do sumiço, isso

Ficamos duas semanas sem dar notícias aqui no blog. Sem querer nos desculpar, mas já justificando, tivemos, primeiro, um problema com o blogger, que resolveu nos tirar do ar out of nowhere; depois, algum problema (termo técnico “perrengue”) estava nos impedindo de postar fotos. Junte-se a isso os primeiros tempos, bastante atarefados por aqui, e amenizem as pragas rogadas por causa do nosso silêncio.

Para compensarmos, vamos colocar aqui um breve diário-revisão do quê de melhor aconteceu enquanto estivemos sumidos:

Domingo, 11 de abril – acordamos tarde e resolvemos comer uma tradicional pizza de domingo. Para isso, fomos, por recomendação de nosso amigo Pekka Hirvonen (terve, Pekka!) até a Kotipizza, uma franquia finlandesa que já se envolveu até em polêmicas com nosso carismático Berlusconi. Cobrem que eu conte a história dia desses. O curioso é que, para chegarmos até lá, passamos – como eu passo todos os dias antes de ir para o trabalho – pela Senaatintori (Praça do Senado), na qual se localiza a Helsingin Tuomiokirkko (Catedral de Helsinque). Nas fotos e postais que vimos antes da mudança, era o prédio que mais chamava atenção. Hoje, é parte algo comum da paisagem. Creio que acontece sempre com as coisas com as quais nos acostumamos... a Praça dos Três Poderes deve ser de tirar o fôlego para quem vê pela primeira vez. Para quem trabalha lá, e morou desde sempre em Brasília, é só mais um pedaço do quintal.

Segunda, 12 de abril – Começamos – e terminamos – nossa busca por um apartamento para morar. Não nos olhe com essa cara, de quem acha de decidimos muito rápido... Antes de virmos para cá, identificamos o website dos websites de imobiliárias finlandesas (Vuokraovi.com), e acompanhamos quase diariamente as oscilações de preço, melhores opções de localização, requisitos para aluguel e tudo mais. Quando chegamos aqui, elegemos os cinco favoritos disponíveis e fomos atrás. Ser prevenido e organizado dá nisso: na segunda visita, achamos um apartamento bem conservado, em uma área super boa e central de Helsinki (5-Corner, ou Viiskulma), e com pequenos 196 m2. Em outras palavras, podem vir visitar que cabe direitinho. E esquerdinho, e na diagonal... cabe todo mundo, de qualquer jeito. Em breve mostramos nosso pequeno palácio por aqui.

> A outra novidade é que compramos nossos cartões HSL (Helsingin Seudun Liikenne ­– Transporte Regional de Helsinque). Agora, podemos transitar pelo bonde, pelo metrô e pelo ônibus, sem ter de ficar comprando bilhetes a cada uso. É mais prático e barato. A cada determinado período, incluímos mais crédito no cartão (no nosso caso, escolhemos fazê-lo mensalmente).

Terça, 13 de abril Fomos convidados para jantar na casa da Professora Helena, Diretora do Centro Cultural Brasil-Finlândia. O convite incluía carona até  Vantaa, na área conurbada de Helsinki. Em termos brasilienses, seria algo como o Guará, até pela proximidade com o aeroporto. No cardápio, senhor@s, feijoada e mousse de maracujá. O marido da Helena é dono de uma das lojas da Kotipizza, e talvez compre a loja próxima do nosso futuro apartamento. Oremos. E aprenda aí: nas casas da Finlândia, mesmo as de brasileiros, tira-se o sapato na entrada. O cabide-e-porta-calçados é piece of furniture obrigatório.

Quarta, 14 de abril – Pela primeira vez, fomos representar a Embaixada em um evento cultural. No caso, era a abertura da semana cultural da Embaixada da Turquia, com direito à exposição de quadros de uma artista da Anatólia e apresentação de grupos de música e dança turcos. A missão principal era simples: cumprimentar o Embaixador turco, parabenizá-lo pela iniciativa e marcar presença. Secundariamente, eu deveria analisar o local como potencial anfitrião de futuros eventos nossos. Embora tenha executado as instruções (ainda que sem brilhantismo), ainda me sinto bastante deslocado na comunidade diplomática daqui, uma vez que não conheço ninguém. Creio que isso virá apenas com o tempo. O evento foi realizado no Stoa Culture Center, em Itäkeskus. Helena houvera brincado muito conosco no dia anterior sobre o fato de termos conhecido o subúrbio de Helsinki...  Mas Itäkeskus passou essa impressão de um modo muito mais intenso: na saída da cerimônia de abertura, em direção ao metrô que nos traria de volta para Kaisaniemi, vimos uma mistura de etnias, línguas e aparências muito maior do que em qualquer outro lugar até então.

Quinta, 15 de abril – A erupção do vulcão na Islândia não gerou grandes níveis de stress na Embaixada, até porque a comunidade brasileira na Finlândia é pequena. Demos algum nível de apoio a um pessoal do CNPq, mas abrir o espaço aéreo nem o Barão conseguiria.  Bom mesmo foi saber que tudo indica que a picanha brasileira e o Guaraná Antarctica invadirão a Finlândia no verão. Mas essas coisas do Brasil ainda não geraram banzo. Saudades, mesmo, além da família e dos amigos, é de ver meu Corinthians na TV, e depois correr para ouvir os comentários da ESPN Brasil.  Streaming de TV na internet até quebra o galho, mas o fuso horário não me deixa assistir os bons programas.

Sexta, 16 de abril – Em mais um passo para nos tornarmos praticamente cidadãos locais, buscamos no Nordea, banco em que temos conta, nossos cartões de débito. Agora já posso sair por aí gastando... opa, mentira, aqui não tem cheque especial... A cidade foi testemunha de uma greve dos atendentes de lojas, por causa da qual tivemos algum receio de desabastecimento e estocamos alguma comida. Devo confessar, no entanto, que não vi nenhuma loja fechada... O máximo que vi foram algumas pessoas distribuindo panfletos na rua, que meu capitalismo entranhado confundiu em um primeiro momento com as indefectíveis peças de propaganda dos semáforos de Brasília. No, thanks, dizia eu apressado.

> A noite foi caseira... a Ministra Mônica, fã de filmes e livros policiais, nos emprestou DVDs do Kurt Wallander. Eu já tinha ouvido falar do personagem no fundo das minhas leituras de EntreLivros, mas descobrimos todo um novo universo de fãs, leituras e releituras do sujeito. Henning Mankell, criador do detetive sueco humano e largadão, vende mais na Alemanha do que o Harry Potter. Quanto mais descobrimos e aprendemos, mais temos consciência da nossa ignorância...

Sábado, 17 de abril – Levantamos cedo e pegamos um ônibus para Vantaa, onde eu fui apresentado à Ikea. Para a Flávia, que já tinha oito anos de Estados Unidos nas costas, era apenas mais uma visita. Para mim, foi a chance de conhecer uma espécie de Tok Stok melhorada e muitas vezes maior. É o tipo de loja na qual você entra sem nada e sai com uma casa totalmente pronta, bastando ter o dinheiro para isso. Nada muito fancy, mas vende-se de guardanapo a cama de casal, de tapete de banheiro a móveis para o jardim, de colchões a luminárias. Passamos horas na loja, vendo quais as peças seriam mais prioritárias a serem compradas para nosso apartamento novo. Nossa mudança só deve chegar do Brasil em princípios de junho, e, até lá, para não ficarmos improvisados demais, resolvemos investir em alguns móveis – até porque, mesmo depois de toda a mobília brasileira chegar, um apartamento de 196m2 parecerá um ball room se não for minimamente preenchido. A relação da Flávia com a loja é muito engraçada: não só ela já conhecida as linhas e marcas disponíveis, como sabia praticamente de cor a ordem das sessões e até tinha saudades das meatballs with lingonberry sauce do restaurante de lá.

> Um dos maiores temores/ansiedades que eu tinha (e tenho) em relação à vida de diplomata na Finlândia é passar meu anos aqui e acabar me acomodando com o circuito diplomático. Em outras palavras, por mais que o pessoal da Embaixada seja ótimo, eu não gostaria de me mudar daqui sem deixar amigos finlandeses. Ainda no sábado, depois da Ikea, fomos convidados pelo Lucas – motorista e auxiliar da Embaixada – para visitarmos a casa de um amigo dele, o Erkka. Foi bom começar a estabelecer um contato mais direto com o pessoal daqui. Só não sei o quanto a Flávia se interessou pelos nosso papos sobre heavy metal, graduações alcoólicas das bebidas finlandesas e por aí vai. Mas valeu ver que EFETIVAMENTE é possível gelar a cerveja na varanda, fora da geladeira. O clima faz o resto por você.
[Nota do redator: antes de publicarmos o post, Flávia chamou a atenção para o fato de que adorou experimentar Minttu na casa do Erkka. Trata-se de delicada e suave bebida licorosa finlandesa à base de menta, produzido em Turku, e com singelos 50% de teor de álcool].


Domingo, 18 de abril – Após o álcool e o Erkka, o Erkka e o álcool do sábado, dormimos até tarde domingo e resolvemos ir novamente até a Kotipizza. Ainda não foi dessa vez que experimentamos a famosa pizza Berlusconi, mas pizzas e domingos combinam em qualquer lugar do mundo. À tarde, mais uma opção típica para um sunnuntai: assistir um filme no cinema ao lado de casa. Dessa vez escolhemos “Nowhere boy”, que mostra os dias de fins de adolescência de John Lennon, na época dos Quarrymen. É cada vez mais curioso e agradável – até por não ser inédito nem para mim, nem para a Flávia - usar o inglês como primeira língua.

Segunda, 19 de abril – Logo na primeira semana de trabalho, o Embaixador Armando me chamou em sua sala. Todo solícito e preocupado, e munido de bloco de anotações e caneta, eu me preparei para as demandas que surgiriam. Na verdade, não se tratava de trabalho... ao menos não para mim: ele havia comprado ingressos para a Duke Ellington Orchestra. Entretanto, compromissos da Embaixada o impediriam de assistir ao show, e ele queria saber se eu me interessaria em ganhar os ingressos. O presente na verdade foi duplo: não só Flávia e eu pudemos ouvir jazz com uma big band da maior qualidade (Lourdes, essa foi para você!), como tivemos o prazer de conhecer o Finlandia Hall, sala de espetáculos projetada pelo famosíssimo Alvar Aalto. Imagina a Martins Penna?  Então, não tem nada a ver. ;)     Chegamos lá e nos misturamos à fina flor da meia-idade blasé finlandesa, com direito à chá e vinho no intervalo. Pago, garotão -  aqui neste país nada é de graça, só educação e saúde de qualidade.

Terça, 20 de abril – Oficialmente assinado o contrato de aluguel com a landlady, Madame Saynur Auer. Ela foi extremamente simpática e prestativa, e enviou um ­e-mail com todas as dicas sobre empresas de gás (no apartamento que alugamos, atipicamente, há fogão a gás – na maioria dos que vimos até então os fogões eram eletricos), eletricidade, TV a cabo, etc. Ela também nos contou que, por causa de seu formato e de sua localização, o apartamento ganhou, do seu primeiro inquilino – um diplomata da Embaixada dos Países Baixos -, o divertido apelido de Pentágono. Pois é, depois da Pink House dos tempos de Inglaterra, agora morarei no Pentágono. Parece uma evolução.

> Após o expediente, fomos até uma loja paradoxalmente chamada Verkkokauppa.com, em Ruoholati (palavra finlandesa que rima com uma asteca, veja o que é a globalização). Trata-se de uma loja de eletroeletrônicos, na qual fomos buscar solução possível para nosso problema televisivo: o padrão de cores no Brasil é PAL-M, e na Europa é DVB-T. Nos Estados Unidos é NTSC. E na casa de diplomata é d.e.s.e.s.p.e.r.a.d.o.r. Tivemos de deixar uma TV 42’’ full HD, 3 HDMI no Brasil porque ela simplesmente não serviria por aqui. O sensacional da Verkkokauppa (verkko = rede, kauppa = loja, vão aprendendo aí) é que as etiquetas nas prateleiras são digitais: elas mostram o preço do produto, e podem ser alteradas eletronicamente pela loja. Além disso, mostram a quantidade de itens do produto disponíveis no estoque. Quando alguém compra algo e paga no caixa, a etiqueta correspondente já corrige as quantidades. Ô lá em casa...  O ruim da visita é que descobrimos que nem eles possuem TVs full multi-system, ou seja, que aceitem mais de um padrão de cores... 

Quarta, 21 de abril – Parabéns, Brasília, tão maltradada. Por algum motivo, não me sinto tão mal assim de não estar por aí. Vai ver é o cheiro podre que assola você nos últimos tempos. Parabéns, Tiradentes, Tancredo, São Januário e Jornal Hoje! E Roma também, ao menos miticamente.

> A solução para o mistério da TV teve de vir do Peter Justesen, um grande duty free dinamarquês especializado em atender as comunidades diplomáticas ao redor do mundo. Aproveitamos uma promoção de frete gratuito e compramos uma Hitachi, tão 42’’, tão full HD e tão HDMI quanto a nossa brasileira, só que – jurou Paul Vendrasco, agente de vendas PJ aqui em Hensinki – capaz de transmitir qualquer padrão de cores do mundo todo. Em ano de Copa do Mundo, mocinh@s, esta é a compra mais fundamental e estratégica imaginável.

> Hoje também foi o dia em que fechamos contrato com a Gasum Oy, companhia de gás de Helsinki. A burocracia aqui é quase nula: a Flávia ligou para a empresa, passou o endereço de nosso futuro apartamento, agendou o início do fornecimento para dia 7 de maio – data em que nos mudaremos – e ... foi isso. Simples, indolor e em menos de cinco minutos. E, melhor de tudo, sem gerundismo!

> À noite fomos para mais um evento cultural em nome da Embaixada. Dessa vez, uma sessão do filme argentino El secreto de sus ojos (Katseeseen Katketty, em finlandês castiço), ganhador do Oscar de Melhor Filme Estrangeiro. Essa é uma invejinha positiva que o Brasil ainda tem da Argentina... E o filme é muito bom. Destaque para a forma como os protagonistas deduzem onde encontrar o suposto assassino, e da tomada sem cortes de câmera no estádio de futebol, durante o jogo entre Racing Club e Huracán (¿dónde está Defederico?). Uma vez que o filme foi projetado em espanhol portenho com legendas em finlandês e sueco, tive de tirar o pó do meu portunhol. A boa notícia é que ainda não esqueci as aulinhas de Tia Ingrid.

Quinta, 22 de abril – Até agora, há apenas três casos de microburocracias enfrentadas. A primeira veio da Helsingin Energia, a companhia de energia elétrica daqui. Como não temos o social security number, que, em muitos países, funciona meio como o CPF brasileiro, a HELEN não quis assinar nosso contrato por telefone. Como consequência, tivemos de ir até o Kamppi, e resolver – then again, em menos de cinco minutos - questão da eletricidade. Aproveitamos a proximidade e fomos até uma representante da Sonera, uma das operadoras de telefonia celular. Já assinamos contrato, mas a segunda burocracia é que não pudemos sair com sinal funcionando automaticamente (nem eu pude pegar meu iPhone): eles precisaram enviar o material para o escritório central, e prometeram que em alguns poucos dias tudo estaria resolvido. Estamos aprendendo a confiar nisso. A terceira burocracia veio da Welho, melhor fornecedora de internet e TV a cabo daqui (“o mundo é dos Welhos?”). Por não termos o social, eles estão pedindo um depósito de 200 euros para fornecerem serviços. Vejamos o que conseguimos negociar.

> De tarde, aproveitei a folga que consegui na Embaixada para tratar das minhas burocracias de chegada e fui fazer à barba. Peguei o bonde e fui todo pimpão até um barbeiro bastante próximo ao Viiskulma. Ao entrar na barbearia – daquelas old school, com direito barber pole girando em vermelho e branco do lado de fora – perguntei se, além de cortar o cabelo, o cidadão também aparava barbas. Ele respondeu tranquilamente: “claro, você tem horário marcado?”. Após milésimos de segundo de tela azul cerebral, eu balbuciei “e precisa?”.  Mais um aprendizado, amiguinh@s: barba aqui, só com hora marcada, e sem direito a comentários sobre o campeonato carioca ou Programa do Bolinha ligado em uma TV preto e branco.

> Já há algumas semanas eu descobrira que uma amiga de velhos tempos, Janaína, estava morando em Tampere, cidade próxima de Helsinki. Na noite de quinta, Flávia e eu fomos jantar com ela, em um restaurante  chamado Cella. Bom vinho, boa carne (a melhor e mais farta até agora em terras suomi) e o reforço de que o mundo é minúsculo: não só eu fui descobrir uma conhecida que também está morando na Finlândia, trabalhando para  Nokia, como a Flávia e ela também descobriram que se conhecem, embora o contexto exato ainda esteja por ser estabelecido. De qualquer forma, será um imenso prazer ter mais uma referência brasileira experiente em matérias de Finlândia. Creio que, para a Janaína, também será legal voltar a ter pessoas próximas com a mesma origem geográfica.

Sexta, 23 de abril – Para os que não estavam sabendo, a TAM-KLM havia simplesmente perdido uma de nossas malas. Embora fosse a mala mais supérflua, pelo seu conteúdo, era a que tinha remédios, xampus, pentes - esses objetos e produtos de uso diário e pessoal que nem sempre encontram substitutos tão desejados. Após semanas de cobranças e negociações, já déramos a mala por perdida, e nos preparávamos para a via crucis do ressarcimento undervalued. De repente, em uma conjunção do dia de São Jorge, padroeiro da Inglaterra e do Corinthians, com o aniversário do Shakespeare, recebemos um telefonema com ares de milagre: a mala havia sido localizada, e estava chegando para nós em algumas horas. Embora a mala tenha chegado revirada e com alguns objetos faltando, foi uma alegria boba rever o desodorante favorito ou aquele alicate especial capaz de cuidar de cutículas rebeldes. E, para diversão da audiência, sabe onde estava a mala?  Em Goiânia, senhoras e senhores!  O infeliz funcionário do balcão da TAM, movido pelo DDA típico dos ares de Pindorama, ou pelo analfabetismo funcional que lá impera, etiquetou nossa mala com um belo GYN, e não com o devido GRU. Terá errado?

Sábado, 24 de abril – Segunda ida à Ikea, desta vez para deixar boas quantidades de euros por lá.  Cama de casal, colchão, travesseiros, edredons, sofá para a sala de TV, toalhas de banho e rosto, talheres, panelas, utensílios de cozinha, tapete para o banheiro, cabides e porta-calçados (eu disse que era mobília obrigatória, não disse?) para o hall... Dia 7 de maio, aniversário do Rafa Beltrami (boa sorte, padrinho!), vamos nos mudar para o Pentágono, e, pelo que conheço de Dona Flávia, em dois dias a casa estará aconchegante como poucas...

Domingo, 25 de abril – após ler isso tudo até aqui, se é que você teve paciência, adivinhe o que eu fiz no domingo?  Escrevi para o blog, oras!

terça-feira, 13 de abril de 2010

E afinal de contas o mundo é pequeno...


Domingo em Helsinki, 9 graus, sol a pino, saímos para passear e eu levei o Daniel para conhecer as maravilhas do supermercado da Stockmann (maior loja de departamento da Finlândia). Fizemos umas compras e resolvemos explorar um pouco dos 8 andares da loja...

Olhamos várias coisas, fiquei horrorizada com a seção de sapatos femininos - tudo muito caro e sem estilo. Mal posso esperar para a minha volta ao Brasil e literalmente encher uma mala só de sapatos lindos, confortáveis e acessíveis financeiramente.

Depois fomos dar uma volta na parte de jogos de tabuleiro e, quando estávamos indo embora, comentamos em voz alta que tínhamos que comprar um jogo em finlandês sobre a Finlândia, só assim aprenderemos à língua. Qual não foi a nossa surpresa quando um casal que ia passando comentou em português, “só assim mesmo...”, foi hilário.

Paramos para conversar rapidamente, e, quando o senhor se apresentou, levei um susto. O nome dele é Renato Góis, como o meu Góis, e nasceu em Aracaju. De algum jeito torto somos parentes. Agora, imaginem vocês como o mundo é pequeno... quando nessa vida eu pensaria que tenho um primo de sei lá que grau que frequenta a Finlândia?

A vida é cheia de surpresas.

domingo, 11 de abril de 2010

Antropologias

Esses dias eu estava lendo um texto do Roberto DaMatta em que ele falava sobre a questão da leitura (ou da falta de) no Brasil. Segundo ele, o brasileiro ainda considera a leitura um luxo, e muitos justificam a pouca leitura pela falta de tempo. Para DaMatta – e foi aqui que mais concordei com ele – a leitura não é uma questão de tempo, e sim de necessidade. A escrita, para mim, já foi também uma questão de necessidade, mais do que de vontade, e espero que volte a ser.

Toda essa introdução é só para pedir desculpas pelos dias sem notícia no blog. A vontade e a necessidade de escrever e ler os (poucos, ainda, hã?) comentários nos acompanhou o tempo todo. Esta, entretanto, foi a primeira semana de efetivo trabalho na Embaixada, além de estamos em meio a providências bancárias, burocráticas e imobiliárias. Para minorar o silêncio, usaremos também o twitter (twitter name casalducci) para dividir as impressões mais breves e imediatas do dia-a-dia.

Feitas as devidas considerações, passemos à agenda efetiva desta sessão.

Após cinco anos de MRE, dificuldades de negociar a remoção, adiamentos, empacotamentos, três vôos e uma Páscoa maior que a brasileira, no dia 6 de abril de 2010 comecei oficialmente a trabalhar em uma Embaixada. No perigoso jargão do Itamaraty, o Secretário Daniel “chegou e assumiu”.

No primeiro dia, Flávia me acompanhou, para também ser apresentada ao pessoal da Embaixada. O prédio de cinco andares que nos abriga fica em Kaivopuisto, uma área bem ao sul da cidade, onde fica a maioria das Embaixadas. Há um prédio gêmeo, colado ao nosso – e com o qual inclusive dividimos a garagem - que abriga a Chancelaria italiana.

As primeiras impressões foram as melhores possíveis: todos muito receptivos, uma sala carinhosamente preparada, com direito a um computador zero km e um janelão de frente para a rua. Além do ambitente físico ser muito agradável, o apoio e a paciência sem fim de todos para sanar as intermináveis dúvidas de um casal que chega a um país desconhecido são fundamentais, e têm facilitado nossa vida.

Em um Posto relativamente pequeno, um diplomata acaba por ter de se interar de todos os assuntos. “Meus” temas de maior atenção, por intrução do Embaixador Armando, serão a parte cultural e os assuntos da Estônia – país com o qual as relações diplomáticas do Brasil são tratadas cumulativamente pela Embaixada em Helsinque.

As atividades culturais da Embaixada estão intimamente ligadas ao CCBF – Centro Cultural Brasil-Finlândia, que funciona no térreo do prédio. Sua diretora, a Professora Helena (ecos de Cirilo e Maria Joaquina, alguém?) é uma pessoa cheia de iniciativa e muito séria (embora divertidíssima). A parte cultural está em boas mãos. Por outro lado, o Ministro Amorim deve ir a Talim em junho. Portanto, mãos a obra para conhecer mais detalhadamente o país e preparar a visita.

domingo, 4 de abril de 2010

As maravilhas da Globalização

Este blog não sobrevive somente dos posts de Daniel, de vez em quando eu também vou deliciar vocês com minhas pérolas.

Hoje, domingo de Páscoa, saímos com o propósito de se perder um pouquinho em Helsinki, foi um passeio “típico” de domingo.

Almoçamos no Golden Rax PizzaBuffet (dilícia), que, como vocês podem perceber, oferece um menu genuinamente finlandês. Depois, fomos ao cinema Maxim ver Single Man - em inglês com legendas em finlandês e sueco. Estamos apanhando para entender finlandês, mas, em compensação, sueco é, de certa forma, compreensível, já que lembra inglês.

Depois do cinema fomos ao Robert Café, e tchananan... O Daniel arriscou o seu primeiro diálogo em Finlandês “Anteeksi, puhutko Englantia ?” (com licença, você fala inglês?), logo em seguida passamos em uma Deli e foi a minha vez de dar os meus primeiros passos em finlandês.

A próxima aventura será explorar as passagens subterrâneas da cidade.

E assim vamos, amigos, um passo de cada vez...

Cinza, branco e verde escuro


A Finlândia revelou-se devagar... fez suspense até os últimos minutos da longa viagem. Uma hora e quarenta até São Paulo, onze horas até Amsterdã, mais duas até Helsinki-Vantaa. Quanto mais os vôos se direcionavam ao Norte, mais a paisagem e a luminosidade do planeta iam mudando.

No último trecho, olhos bem abertos na janelinha do avião, para estudar a geografia nórdica in loco. Não adiantou muita coisa... mesmo antes de sobrevoarmos o Báltico, já não se via nada além de nuvens , e o próprio piloto anunciava que o clima estava “hazy”.

Abaixo da espessa camada de nuvens, só depois do piloto anunciar a aterrissagem iminente abriu-se uma imensa paisagem acinzentada de frio, branquinha de neve e coberta de pinheiros verde-escuros, em uma tonalidade que não me lembro de ter visto no Brasil. Quilômetros e quilômetros homogêneos, que fizeram com que desconfiássemos que só existe Helsinki no país inteiro. A Flávia me sussurrou que também deveriam haver lagos, e quem sabe até gente, por tudo o que a gente havia estudado: “parece desenhada em nanquim”...

Da saída do aeroporto, observávamos mais de perto a paisagem que víramos de cima, mais viva dessa vez. Flávia conta ter tido uma automática lembrança do Colorado (o estado, não o motel, senhor@s), com rodovias largas e bem cuidadas, e uma sensação de vastidão até a chegada da cidade.

O frio era onipresente, mas tolerável. Helsinki, pelo o que lemos, e agora vivemos, vai ficando cada vez mais bonita a medida que nos dirigimos ao Sul. Curiosamente, chegamos à cidade pelo Norte.

Só pode, portanto, melhorar a partir de agora...

sábado, 3 de abril de 2010

Trinta e cinco anos em noventa caixas

Qualquer grande mudança em nossas vidas faz – ou deveria fazer – a gente refletir, avaliar tudo o que aconteceu até então, e projetar e se preparar para o que virá. Quando se trata de uma mudança materialmente muito grande, o impacto é, ao mesmo tempo, mais intenso e mais diluído.

Não me refiro ao valor financeiro das coisas que ficam ou que vão, e a estimativa do valor de cada bem para preenchimento do inventário do seguro seja um exercício dos mais soporíficos. É o valor imaterial das fotos antigas, dos rascunhos de poesias incompletas e daquele chaveiro que você usou com a chave do seu primeiro carro que alonga o processo de seleção.

Para Flávia, a mudança para a Finlândia é mais um episódio de uma aventura que começou há anos, desde que sua família se mudou de Aracaju para Brasília. Em sua décima mudança de casa, e segunda mudança internacional, ela se mostra muito mais prática e desapegada. Leva o que é importante e essencial, e organiza tudo com rapidez.

Enquanto isso eu perco dias, semanas, a decidir se levo comigo, se deixo no Brasil ou se jogo fora uma coleção de desenhos que fiz na pré-adolescência. Poxa, e aquelas revistas sobre o mercado editorial que sempre me prometi ler e se acumularam esquecidas até hoje? Cada item gera minutos eternos de histórias relembradas, em uma espécie de autobiografia instantânea e informal.

Sobrecarrego a pilha de livros com obras que tenho certeza que não lerei, mas... quem sabe? O cérebro andarilho pode querer parar por obras de simbologia medieval ou de cibernética, sem falar em todo material de referencia profissional é incluído por segurança. Não é simples apego aos papeis antigos, ou às roupas, ou aos CDs ou DVDs... o que emociona é cada uma das histórias evocadas por eles.


São trinta e cinco anos de Brasília, e um acúmulo de memórias queridas – ainda que dolosas, em alguns casos – e os objetos que as referenciam. Em dois dias, três sujeitos desconhecidos encaixotam trinta e cinco anos, sem muita noção de que ali vai uma vida.

Muitas caixas ainda nos acompanharão por toda a vida. Acho que, in the end, o importante é ter as caixas mentais mais cheias do que as físicas, para ter o que contar e dividir sem carregar tanto peso por aí.