quinta-feira, 10 de novembro de 2011

Budismo pós-moderno


Independente da opção religiosa ou agnóstica, logo vamos percebendo que a vida nos meios diplomáticos é um curso intensivo de budismo forçado, com suas nobres verdades envolvendo o sofrimento, e a necessidade de desapego e ausência do self sendo ensinadas cotidianamente.

É especialmente comum na vida de uma Embaixada que tenhamos de nos distanciar das pessoas que adentram nossas vidas. Talvez mais do que em qualquer outro ambiente profissional, a impermanência é a regra. Quando chegamos a um determinado Posto, sabemos que o tempo de convívio com a cidade e com os colegas é limitado. Da mesma forma, todos os diplomatas – brasileiros e estrangeiros com quem entramos em contato –, oficiais e assistentes de chancelaria estão apenas de passagem. Some-se a isso a alta rotatividade dos contratados locais – que acabam encontrando melhores opções, em virtude do baixo salário pago pelo Governo brasileiro – e temos uma festa de despedida quase constante.

Quando um dos profissionais com quem trabalhamos deixa a Embaixada, há um momento de reacomodação. Às vezes, ficamos tristes, por se tratar de amigos especialmente queridos. Em ocasiões mais raras, celebramos de forma discreta o fato de enfim termos nos livrado de um incômodo. Invariavelmente, seguimos em frente, procuramos receber o substituto com carinho e didática, e torcemos para que a nova relação de trabalho seja de competência e amizade. A nova realidade combinará os padrões exigidos pelo Ministério e pelas chefias com a forma de ser e agir do recém-chegado.

Em geral, tudo se passa de forma relativamente plácida. Os anciões do templo diplomático recebem seus aprendizes, e os guiam pelos caminhos (do meio) iniciais da jornada, até que aprendam a fazer as perguntas corretas e elaborar as respostas cheias de precisão e enigma de – digamos – um serviço consular.


Há um momento, entretanto, que gera compreensível ansiedade e pode atrapalhar, ainda que por alguns momentos, um caminho mais sereno para o nirvana: a mudança de Embaixador. Quando um novo titular assume, o centro nervoso – ou, quiçá, calmo – definidor do espírito de nossas rotinas será alterado. Por mais que certas práticas diárias já estejam estabelecidas e sedimentadas, haverá um novo olhar sobre o samsara local. Esse processo – embora não seja necessariamente ruim e quase sempre enriqueça nossas experiências – tende a ser, como toda mudança, dolorido e gerar algum grau de resistência.

Este é o primeiro Embaixador de quem tive oportunidade de testemunhar a partida. Tendo sido meu primeiro chefe no exterior, seu lugar especial nas memórias foi consquistado. Desde antes da minha chegada, ainda durante o período em que eu sondava as possibilidades de destino para a remoção, a confiança e a hospitalidade por ele dispensadas foram marcas do convívio.

Aproveitando a liberdade que ele sempre ofereceu, costumo brincar dizendo que ele nos mima demais, e que será difícil encontrar uma chefia bacana desse jeito – o que é uma injustiça declarada com o sábio-mór que chega, e ainda não teve chance de nos iluminar. Elogiar quem sai, neste caso, não se trata da praxe diplomática dos discursos de despedida laudatórios, e muito menos de adulação vazia – até porque, os momentos de nossas carreiras provavelmente nos impedirão de nos reecontrar profissionalmente no futuro. É o reconhecimento do aprendizado recebido.


Sabedoria das sabedorias, de cada um, chefes ou subordinados – e amigos, conhecidos, transeuntes, colegas de cela -, devemos procurar aprender, e posteriormente replicar, os melhores exemplos. A parcimônia, a aversão ao excesso de formalidade e o balanço sutil entre a ação e a não-ação são apenas alguns dos koans que espero levar comigo. E, quem sabe, um dia, alguém perca algumas linhas comentando minha partida.


quinta-feira, 20 de outubro de 2011

Pra rir, pra rir (parte 2)


Minha relação com as duas culturas começou até de forma equilibrada. Adorava os Três Mosqueteiros – humanos, com Michael Yorke, e – vejam só – caninos, na versão animada espanhola. Já desconfiava, ainda que de forma inconsciente, de que algo de complexo envolveria uma cultura em que os três mosqueteiros eram quatro. O Equinox de Jean Michel Jarre esteve entre os primeiros LPs não-infantis que frequentaram minhas vitrolas, e eu admirava Prost como piloto, e não Mansell. Por um breve período de tempo, Arsène Lupin disputou com Mr.Holmes o título de personagem mais cativante da literatura. E isso sem mencionar o vício causado pela introdução à leitura de Jules Verne na idade apropriada. Acima de todos esses interesses, pairava a mitologia arturiana, matrimônio de Gália e Bretanha.

Desconfio que tudo começou a decair quando Zico perdeu o pênalti, e a França de Platini-Tigana-Rocheteau derrotou o Brasil em 1986. Comecei a ler Asterix pelas piores histórias, o que gerou uma falta de captura mais definitiva. Houve, posteriormente, sérias chances para uma sedução francofílica, quando Irène Jacob tornou-se objeto de desejo pós-adolescente, mas o contato maior com o pensamento francês durante a universidade, e mais duas derrotas em Copas do Mundo selaram a resistência. Enquanto isso, o universo literário – e principalmente musical – britânico abasteceu anos importantes de formação intelectual e afetiva, indo de Shelley a Stephen Morrissey, de Pink Floyd a Kipling.

A francofilia da educação superior brasileira – ao menos nas chamadas humanidades – não encontrou em mim receptor entusiasta. Hobsbawn sempre me pareceu mais legível que – digamos – Braudel. Enquanto os ingleses e americanos construíam frases na ordem direta e com conceitos compreensíveis, o esforço dos franceses e seus discípulos brasileiros parecia ser o de complexificar o texto, torná-lo tão abstrato a ponto de se poder, dele, extrair-se qualquer conclusão desejada. Não por acaso, a área das relações internacionais, com seus bulls e carrs e waltzs acabou se tornando atraente.


Levou muito tempo – bem mais do que o desejado – para que eu tivesse a chance de experimentar a Inglaterra in loco. Levaria, após isso, ainda mais de uma década para que a França fosse inspecionada. Pessoa-gato que sou, acabei por visitar Paris por um motivo-família: meus sogros passariam alguns dias por lá, em uma época que coincidiria com um período previsto de afastamento da Embaixada. Unindo o agradável ao potencialmente mais agradável ainda, decidimos conhecer (no meu caso) ou rever (no caso da esposa) a terra de Monet e Aznavour.

Nos dias que anteciparam a viagem, procurei criar o ambiente mais favorável possível para uma degustação positiva. Aproximei-me da pouca Paris que conhecia, buscando as referências mais acessíveis, geradas, no mais das vezes, por olhares anglo-saxões. Os primeiros rascunhos de programação de viagem começaram a apontar locais típicos do imaginário pop contemporâneo: o corcunda da minha Notre Damme não era o de Victor Hugo, mas o da Disney; o fantasma na minha ópera tinha o sotaque britânico de Lloyd-Webber; quem melhor retratou meu Moulin Rouge foi um australiano, e não Lautrec; meu Louvre era o princípio e o fim de Langdon, com direito a ajoelhar na Linha da Rosa; e, antes que o sol se pusesse, eu teria de visitar a Shakespeare & Co.

Aparentemente, Woody Allen soube das minhas angústias, e embalou as vésperas da viagem com seu delicioso Meia Noite em Paris. Muito além da homenagem visual prestada, a história mistura literatura e crítica à nostalgia excessiva. Era, provavelmente, o antibiótico que faltava para que eu estivesse completamente pronto. Agora, era só cantarolar as músicas que Claude-Michel Schönberg (ao menos esse era francês) compõs para seus Miseráveis, e me preparar para dias de descoberta. Uma pena a esposa não ter autorizado um bigodinho-de-pierre que eu havia pensado cultivar, para possibilitar imersão e role-play completos.


Paris é uma cidade linda. Por mais simples e óbvia que pareça a frase, dizer de outra forma é querer inventar moda, coisa que deixo para os estilistas. A única cidade tão impactante em termos visuais em que já estive foi São Petersburgo, e esta perde. Em uma comparação limitada a primeiras impressões visuais, Londres não teria a menor chance. Com o passar dos dias, tivemos uma boa impressão dos parisenses, famosos por sua relativa impaciência com os turistas (olha aí os preconceitos sendo desmontados...). Nosso conhecimento limitadíssimo da língua francesa – e, talvez, o momento econômico forte do Brasil - foi o bastante para amolecer um pouco os locais. Mesmo quando precisamos recorrer ao inglês, em alguma pergunta ou explicação mais elaborada, não tivemos maiores problemas: fomos recebidos com sorrisos e respostas educadas... mas sempre em francês...

Ouço Flávia dizer, sagazmente, que Londres é prêt-à-porter e Paris é haute couture. Cerveja e vinho, talvez. A tentativa de comparar os prazeres de um pub e os de uma brasserie, entretanto, é não apenas impossível como desnecessária. Paris é a mulher linda, inacreditável, sedutora, cortesã, femme fatale que promete prazeres indescritíveis. Às vezes, eu diria, ela exagera um pouco na maquiagem, e põe um vestido meio chamativo demais. Londres é sua vizinha, a menina do lado... mulher para ser amigo, namorar e casar. Ela conquista pela frase inteligente, na hora certa, e não pelo olhar lânguido.  


Algo absolutamente comum as duas cidades, tudo somado, é seu poder de sedução e aprisionamento. É doloroso e desagradável deixar as duas cidades para trás, e voltar à vida cotididana. A parte boa é que, nessa dicotomia falsa e divertida, não é preciso negar uma cidade para gostar da outra – assim como não é preciso desgostar de cães para gostar de gatos. Londres terá sempre meu amor, mas não se incomodará com um tórrido affair com a francesinha. Quanto às pessoas-Inglaterra e pessoas-França, você não vai querer limitar seu pensamento assim, vai? 

terça-feira, 18 de outubro de 2011

Pra rir, pra rir (parte I)


Apresentar argumentos de forma fluida, nos dias de hoje, muito além de exigir uma esperada utilização competente da retórica, transformou-se em uma aventura digna de desafios ruins em reality shows. O emissor do discurso precisa saber desviar-se dos lugares comuns (como esta comparação que agora faço, por exemplo), escolher o caminho menos acidentado até a ideia-destino que quer comunicar, e, tal qual heroi de videogame, evitar ser atingido pelos barris ou mísseis cheios de máximas e falácias simplificadoras.

Uma dessas genialidades dá conta de que “gosto não se discute”. De fato, cada um gosta do que bem quer, e já ouvi rumores de que há pessoas que gostam até mesmo de mim. Mas essa frase embaçada esconde a preguiça ou a ignorância do fato de que existe, sim, todo um acumulado de discussões e teorias desenvolvidos ao longo de milênios, que busca refletir sobre a natureza da percepção humana, algo caro e inerente à experiência artística. Essa belezura chama-se “estética”, e, fique tranquilo, não pedirá a você para altere seu afeto pelo seu artista favorito.

A hiperrelativização de todo e qualquer conceito e abordagem, se por um lado ajudou a flexibilizar ranços arraigados de Academia branca e eurocêntrica, por outro proveu toda e qualquer discussão de uma porta dos fundos, ou de um alçapão, extremamente fáceis de ser encontrados. Na dúvida, é só soltar um “ah, mas isso depende...”, e está esvaziada qualquer possibilidade de consenso construído ou de embate construtivo.

Outro grande instrumento do terror é a acusação automática de preconceito, dirigida a qualquer afirmativa geral sobre uma determinada coletividade. É claro que ressalvas baseadas em questões raciais, por exemplo, devem ser rechaçadas como hediondas, e também é claro que eu não gosto de ouvir que “todo brasileiro” tem tal ou qual característica inevitável. Entretanto, o preconceito contra o pós-conceito limita desnecessariamente muitas conversas.

Digamos que, APÓS viver em um determinado país, ou conhecer muitos de seus nacionais, alguém sinta-se à vontade para descrever traços de comportamento ou tendências de personalidade. Embora necessariamente limitador, esse tipo de comentário não delimita uma realidade imutável. Contanto que o exercício não signifique a opção por antolhos às exceções, meandros e zonas cinzentas que possam eventualmente descrever um povo, suas considerações devem ser bem-vindas. Sem algum uso de generalizações, não haveria guias turísticos ou livros didáticos e paradidáticos. Talvez arrisque dizer que não houvesse qualquer frase, letra ou fonema. Bibliotecários de outrora e do futuro, e programadores do presente, orai por mim.

Na prática da diplomacia, cada discurso, declaração oficial, nota à imprensa, cada versão final de comunicado ou tratado, e até telegramas diários (geralmente em menor grau), são estudados e revisados por vários pares de olhos, e esculpidos de forma que expressem o que foi acordado com o grau de precisão (ou imprecisão calculada) desejado (ou possível, dependendo do caso).

Ainda bem que essa exigência não é onipresente, e eu posso evocar um Janus Stark para escapulir dos ambientes acadêmicos, profissionais, e diplomáticos… um pequeno Dickens amador, para permitir a elaboração de desaforismos categóricos, com algum prazer estético, mas sem o compromisso cirúrgico das premissas e das conclusões… um Mr.Hyde para desferir um generoso golpe de bengala nos foucaults e nos javerts dos textos alheios.

E, com isso, sinto-me um pouco mais à vontade para relembrar uma das mais úteis divisões já feitas pela sabedoria humana, que separa os seres em pessoas-cachorro e as pessoas-gato. Diz-se que as pessoas-cachorro estariam mais associadas aos dias ensolarados, à forte interação com a família, à gargalhada franca e aberta. As pessoas-gato gostam da noite, cultuam seus momentos de maior introspecção e são dados a meios sorrisos. Os caninófilos são pessoas transparentes e mais conservadoras, enquantos os pró-felinos, mesmo que também de confiança, trazem sempre uma certa aura de mistério, uma impressão de algo mais, e são dados a maiores vanguardas. Superman e Batman.

Pois existem, em verdade vos digo, pessoas-Inglaterra e pessoas-França (e vou deixar a versão iracema “pessoas-Rio” e “pessoas-Sampa” de lado, para evitar suscetibilidades geográficas mais próximas e, portanto, mais intensas). Conhecida, finalmente, a capital francesa, reuni elementos para uma seríssima reflexão.


(continua)

sexta-feira, 30 de setembro de 2011

quarta-feira, 21 de setembro de 2011

Como uma luva


Embora a astronomia me informe que o equinócio de outono ocorre no dia 23 de setembro, há algumas semanas seu fenótipo já está presente em Helsinque. O sol, como novos trabalhos de bandas boas, é raro, e o vento e a chuva substituem os brilhos diversos do verão, e a hera enroscada do lado de fora do escritório já passou de verde à vermelha.
Não é mais possível sair de casa sem colocar (pelo menos) um casaco, e os guarda-chuvas e cachecois saem do armário, algo alegremente. Outro acessório que, quase sem percebermos, começa a aparecer nos bolsos e bolsas, são as luvas. Durante mais da metade do ano, proteger as mãos do frio é estratégia mais do que recomendada na convivência saudável com as temperaturas em queda.
Calçar luvas traz sensações divertidas, como cócegas no hipotálamo. Luvas não são peças tradicionais do vestuário brasileiro – quiçá nos estados do Sul, ou em certas regiões de Minas ou São Paulo. Usei luvas – cirúrgicas – regularmente, quando cuidei do reparo de livros raros, em outra encarnação dentro desta. Mas esse tipo de luvas são as mesmas usadas pelos médicos, e, dependendo da especialidade, é melhor esquecê-las tanto quanto possível.
As memórias associadas às luvas têm de ver com a ficção. O famoso boxeador, na sensacional dublagem das intermináveis reprises, derrota seu adversário no último segundo. Um rápido corte de câmera, em filme de super heroi, na cena em que ele põe o uniforme e se prepara para o clímax da história. As luvas três quartos da ruiva em preto e branco (ou da personagem de animação, décadas depois, nela inspirada). E os tantos filmes de espiões, ladrões e assassinos que usam luvas, interessados em não deixar rastros de sua presença enquanto executam secretamente suas atividades.
E aí é que surge a graça boba da coisa. Quando chega o inverno, os casacos são mais amorfos. As luvas, reforçadas, forradas, impermeáveis, sem divisões para os dedos, parecem bolinhas desajeitadas nas mãos. O importante é manter-se quente, mesmo em detrimento de uma aparência elegante. Mas antes disso tudo vem o outono... e o outono é a época em que as roupas sociais, entre ternos e sobretudos, que o trabalho me aconselha a usar no dia-a-dia, pedem luvas de couro preto, bem cortadas, justas. Perfeitas para carregar a pasta e o guarda-chuva (longo, com cabo de madeira), embora, concedo, em tempos de touch-screeen, desvantajosas para atender o celular (e eu jamais vou contar a alguém que, certa vez, entre frio e preguiça, eu usei o nariz para atender a uma ligação).
Nesses íntimos momentos públicos, pelo menos duas vezes por dia, em que calço e ajusto as luvas, em saguões e antessalas, o RPGista dormente em meu cérebro fantasia missões desafiadoras e perigosas... invasões de arquivos alheios e roubo de documentos secretos, tiros de precisão com armas de longa distância, ou um duelo no teto de um trem em movimento. No final, o mais ousado que faço com as luvas é apertar os botões para entrar ou sair do bonde, e digitar o código de segurança da entrada do prédio. Mas vale a excitação do momento.
Certa vez, no milênio passado, eu decidi sair de um emprego após ter tido recorrentes sonhos nos quais usava o fio do telefone para enforcar meu chefe de então… Hoje, embora muito mais hierarquizada, a relação com as chefias é bem mais tranquila, nada a reclamar, a não ser por charme e esporte. Mas se eu tivesse um par de luvas naquela época…

terça-feira, 20 de setembro de 2011

O Blog na imprensa!


Nosso blog esta ficando famoso. Especial atenção para a reportagem das páginas 22 a 25. 

domingo, 18 de setembro de 2011

Hip Hip Hooray!

 
Setembro chegou para minha alegria, esse mês tão bem quisto que tem sido motivo de alegrias incontáveis com o passar dos anos. Não só é o mês do meu aniversário, mas também o do Felipe, meu pimpolho. Além disso, foi o mês no qual decidimos que era hora de pedir remoção, é o nome da música favorita da minha  comadre Rita Witsotsky, e, como se não bastasse, é um mês já há alguns anos recheado de viagens maravilhosas e muitas recordações.
 
Ano passado, setembro foi recheado de visitas aqui em casa, todas elas importantes e diferenciadas. Tive a oportunidade de comemorar pela primeira vez em terras finlandesas o meu aniversário, com o Daniel, e também desfrutei da companhia de Painho e Mainha e dos - naquela época - recém conhecidos Maria Clara e Luiz. Este ano tive a boa sorte de contar com novos amigos, de renovar amizades passadas e, no âmbito da família, tive a felicidade de ter por aqui o Gustavo e o Delmir.
 

E por falar nas minhas tão queridas viagens... tive o prazer de rever Oslo e a minha anfitriã favorita, Carol Ferraz, de descobrir a maravilha dos Fjords noruegueses com sua natureza de tirar o fôlego,  e de conseguir realizar um sonho antigo, o de viajar em um trem com cabine com leito, como fizeram os personagens da Agatha Christie em “O Assassinato no Expresso Oriente”. Uma pena que o meu grande companheiro e entusiasta de trens, meu marido Daniel, não estava comigo.

Por fim, um plus-extra-a mais- adicional pulinho em Londres e seus charmes, com a acolhida dos primos Ancelmo e Márcia. Tive o prazer e a honra de guiar o Gustavo e Delmir pela cidade que cativou o meu coração anos atrás e que eternamente deixará saudades, não importa quantas vezes eu retorne.
 

E, para os que gostam de frio, setembro também significa que o verão (ao menos aqui na Finlândia), deu "tchau, tchau" e está na hora de tirar os casacos do armário, que o outono está chegando com sua chuva insistente, seu vento gelado e sua gama de cores indescritíveis.

sábado, 3 de setembro de 2011

O conto de duas Helsinques (final)


À medida em que se aproximava do centro da estação, entendia melhor a distribuição espacial do prédio. A porta mais próxima à floricultura, pela qual havia entrado, era, na verdade, uma dos acessos laterais. À direita, um enorme painel com informações sobre partidas e chegadas localizava-se acima de uma série de portas de metal e vidro, que davam para a plataforma dos trens. Se prosseguisse pelo corredor onde estava, acabaria saindo pela lateral oposta. Ao seu redor, perfilavam-se pequenos quiosques, lanchonetes, uma banca de revistas, dois ou três cafés. E pessoas, várias pessoas. “Ao menos por aqui tem gente. Bancas de revistas e cafés sempre atraem gente”.  À esquerda, um vão levava primeiro a um lance de escadas para o andar anterior, e, mais à frente, para as portas principais da estação. Ao se dirigir para a escada, de onde tinha vindo a moça do buquê, passou por caixas eletrônicos e balcões de informação turística, sem muita procura naquele momento. Parou em frente às escadas – dos lados, as rolantes para cima e para baixo, e, no meio, as estáticas. Uma placa orientava que seria aquela a direção do metrô.

“Na pior das hipóteses, ela comprou as flores em outro local, e veio do metrô com elas. Aí eu vou ter de me virar com a loja da entrada mesmo”. Resolveu investigar, e respirou, curiosa. Optou pelas escadas comuns. Um acidente em uma escada rolante, anos antes, havia deixado certo receio. Os olhos concentraram-se em identificar o local de onde as flores alternativas teriam vindo. Antes de terminar de descer o último degrau, reparou em um luminoso amarelo em que se lia PicNic. Descobriria, ao longo dos meses seguintes, que aquela franquia de lanchonetes tinha diversas unidades espalhadas por Helsinque. A fome despertada naquele momento, entretanto, nada teve de ver com o aroma de café que adornava a vitrine com bagels, croissants e muffins, e denunciavam sobre o que se tratava o estabelecimento. E o cantinho do seu olhar, meio atrapalhado por uma daquelas cabines em que se tiram fotos para documentos, antecipou a primeira grande surpresa do dia.

Caminhou alguns passos, e finalmente pode ver. A primeira associação feita foi com dos esconderijos dos vilões, nos filmes clássicos de James Bond que ela e o Marido tanto gostavam. Uma  gigantesca praça subterrânea — se é que praças podem ser subterrâneas – abria-se bem à sua frente. Galerias de lojas se multiplicavam... por um instante, foi difícil absorver a quantidade de informações visuais às quais era subitamente exposta. Um supermercado logo à direita. À esquerda, uma loja de games, que, se não interessava tanto assim a ela ou ao Marido, já era uma novidade. A Esposa compreenderia que estava em uma espécie de mezanino, entre o andar da superfície, onde ficava a estação ferroviária propriamente dita, e a estação do metrô, acessível por compridas escadas que mergulhavam para o nível inferior, onde entrevia mais lojas. Mais alguns passos, ainda estudados, e pode ver, mais ao fundo daquele vestíbulo gigante, a floricultura que procurava.


Carregou seu excitamento até lá, enquanto percebia que aquele era apenas um, dentre muitos ambientes escondidos nas entranhas de Helsinque. Vários corredores engoliam e regurgitavam dezenas, centenas de pessoas apressadas. O frio era infinitamente menor, e os dedos tendiam a procurar os cachecois para folgá-los. Os mais ousados chegavam até a abrir os casacos, abafados pelo ambiente protegido. A quase totalidade dos mais jovens ensimesmava-se em seus fones de ouvido brancos. Poucos conversavam, e certamente sem a algazarra que já vira em espaços coletivos de outros países. Ainda assim, estava ali a cidade que procurara em vão nos dias anteriores.  Àquela altura, comprar as flores para a Embaixatriz era o menor de seus estímulos. Seguindo em direção às cores da floricultura, descobriu o escritório da HSL, para onde voltaria, dias depois, para comprar seu cartão de transporte público. A loja de flores oferecia, de fato, opções em maior quantidade do que a anterior. Encontrou com facilidade uma orquídea amarela — queria transmitir uma ideia de energia, de felicidade por estarem sendo recebidos nesse novo mundo.
 
Outro amarelo — o  da inicial indefectível e onipresente do McDonald’s — praticamente não chamou sua atenção. Fez apenas um breve registro mental, para referência futura. “Em caso de pânico, o McDonald’s é sempre uma opção segura”. Experimentou um corredor diferente, e encontrou outro supermercado, ainda maior, uma Apteeki (a rede de farmácias locais), e uma enorme loja que combinava estranhamente cosméticos e DVDs. Vislumbrou outros corredores mais à frente, todos eles tomados por pessoas transitando sem perceber seu fascínio. “É aqui que eles vivem..”, não conteve o pensamento. Decidiu voltar ao apart hotel e deixar por lá a orquídea, antes de aventurar pelo formigueiro que descobrira. Não voltou pelo mesmo caminho. Subiu por uma escada próxima, e ao reencontrar o nível da rua, percebeu que estava no lado oposto da avenida que dava frente para Rautatiasema. Havia uma segunda Helsinque que se espalhava por baixo da primeira, e que multiplicava, naquele momento, tanto sua missão de explorar a cidade quanto as alternativas que a cidade desvelaria.

Logo aprenderia que Helsinque foi edificada em uma região rochosa, e os finlandeses aproveitaram as propriedades de resistência e isolamento de seu leito para constuir não apenas redes de esgoto e aquecimento, ou túneis para o metrô, mas lojas, estacionamentos, arenas esportivas, fábricas, centros de processamento de dados e até piscinas.  Com isso, criavam ambientes menos expostos às temperaturas mais rígidas do inverno, e aproveitavam de forma mais intensiva os espaços limitados da capital.


O Marido só retornaria horas depois, e ela não pretendia interromper os trabalhos na Embaixada só para dividir os novos tesouros. Ainda assim, acelerou inconscientemente o ritmo de caminhada, como se o dia fosse passar mais rápido, ao fazê-lo. Intuiu um pensamento não totalmente consciente. “Serão também os finlandeses assim?  Escassos, cinzentos e silenciosos na superfície, mas vivos e pulsantes quando descobrimos os caminhos escondidos até eles?”. Os próximos anos talvez pudessem responder.

***

Quando o Marido entrou no quarto do apart, com seu conhecido ar de cansaço, não se deixou esquecer de demonstrar interesse:

- Oi, amada. Como foi seu dia?
- Tira a farda e vem comigo. Preciso lhe mostrar umas coisinhas...

terça-feira, 30 de agosto de 2011

O conto de duas Helsinques (parte II)


Os primeiros tempos seriam particularmente atarefados. A cidade precisava ser explorada, meio sem rumo, mas com olhar atento, para que os melhores supermercados, as lavanderias, os bancos, os restaurantes e as opções de lazer fossem mapeados. Para facilitar os deslocamentos, já que ainda não haviam decidido se comprariam um carro, era preciso conseguir os cartões da HSL, a empresa de transporte regional de Helsinque. Além disso, o Casal deveria adquirir, o mais rápido possível, linhas telefônicas e aparelhos celulares, para tornar a comunicação mais ágil. Logo viriam providências para abrir contas em banco e conseguir cartões de crédito. Em seguida, os contatos com imobiliárias, as visitas a apartamentos, a definição do local que os abrigaria por pelo menos dois anos, que acrescentaria aos afazeres o preenchimento das papeladas do contrato de aluguel e do seguro do imóvel, a instalação de internet e TV a cabo, a eventual compra de móveis... Quando tudo parecesse mais calmo, o container com a mudança chegaria do Brasil, e toda uma reorganização da casa precisaria ser feita.

Por hora, no entanto, a missão imediata era mais simples. Logo que chegaram a Helsinque, ela e o Marido foram convidados para um jantar na Residência do Embaixador. Seria uma espécie de recepção de boas vindas ao novo Secretário e a sua esposa. Algo íntimo: apenas o Embaixador e a Embaixatriz, a Ministra e o Casal que, naquele momento, ainda se acostumava com o frio. Desatento a sutilezas, como todo marido, o seu não havia pensado que seria, no mínimo, cordial levar flores para a Embaixatriz. Ao ouvir a sugestão, o Marido concordara imediatamente, e agradeceu a lembrança. Ao menos essa vantagem esse marido tinha... não era tão teimoso assim.


A Esposa se lembrou que em Rautatiasema, a estação ferroviária central, havia uma floricultura. Embora ela adorasse tulipas – que, naquele abril bastante frio, ainda podiam ser encontradas –, optou por orquídeas, mais elegantes e duradouras, como deveria ser aquela relação profissional e pessoal que iniciar-se-ia. Endireitou o cachecol e saiu do apart hotel onde estavam provisioriamente instalados. Ao atravessar a porta lateral, que ficava a uns 400 metros da Estação, teve uma sensação duplamente incômoda: além do vento gélido que a fez se contrair dentro do casaco, o cheiro dos cigarros a fez apressar o passo. O Marido já havia brincado sobre isso: “do jeito que vai, vou lembrar de Helsinque como a cidade com cheiro de cigarro”. Não que a cidade toda estivesse impregnada, mas era comum se deparar, logo na saída dos edifícios, com uma grupo de fumantes, tremendo de frio, exilados pelas leis que proibiam o fumo em locais fechados. “Eles têm mais de sofrer mesmo”, pensou. “Odeio cheiro de cigarro”.

Apesar dessa breve presença humana no início do seu trajeto, a mesma sensação de solidão e vazio, sentida em dias anteriores, permanecia. O Casal havia creditado a falta de pessoas circulando pelas ruas ao fato de terem pousado na Finlândia no fim-de-semana da Páscoa, feriado que, diferentemente do Brasil, extende-se até a segunda-feira. Mas o feriado passara, e a escassez de transeuntes ainda era motivo de estranhamento. Onde estavam as pessoas?  E as lojas?  Eram estranhas, relativamente poucas. Era uma cidade nova, uma cidade diferente, uma cultura da qual tinha referências apenas na teoria... Ainda assim, era uma capital europeia, com 500 mil habitantes, um milhão na Grande Helsinque. E, naquele momento, quase todos pareciam escondidos em algum lugar.

Ao passar pelas pesadas portas de madeira da estação, sentiu-se aliviada, tanto pela temperatura mais amena dentro da construção, quanto pela existência de gente, indo e vindo. Logo do lado de fora, havia pontos de bonde elétrico, de táxi e de ônibus. Como toda estação central, pela manhã havia uma concentração de pessoas que chegavam para seus dias de trabalho. Voltou sua atenção para a floricultura, bem próxima da porta. Lá estavam os narcisos amarelos do início da primavera, as rosas, banais como sempre, os lírios e os copos-de-leite. E nenhuma orquídea. Mas não houve tempo para que a frustração se instalasse: seus pensamentos mal haviam iniciado a busca por uma alternativa quando, com um canto do olho, a Esposa percebeu, ao longe, uma senhorita abraçada a um enorme buquê de flores coloridas, ainda que indistintas, subindo as escadas que vinham do andar de baixo. “Ei... deve haver outra floricultura por aqui”. Agradeceu com um sorriso a florista, e seguiu até o corredor onde se localizava a escada.

(continua)

quinta-feira, 25 de agosto de 2011

O conto de duas Helsinques (Parte I)


[O texto a seguir faz parte da sessão “Memorabilia”, e seus eventos se passam ainda em nossa primeira semana na Finlândia]

O Marido a abraçou carinhosamente, como já fizera tantas vezes, e como voltaria a fazer muitas outras. Hábito arraigado, seu abraço era nada burocrático, e transmitia o sentimento comum em um casal jovem ou em um amor verdadeiro. Após um beijo, no canto dos lábios, o Marido se dirigiu à porta de saída e se despediu.

-Até mais, amada, vou para o trabalho...
- Cuide-se, love.


Trabalho... a Esposa parou por um momento e refletiu sobre os últimos meses. Era uma grande mudança para ambos, mas provavelmente o Marido sentiria de forma mais intensa os impactos de se mudar do Brasil e reorganizar a vida, em outro continente. Ela já tinha experiência no assunto, havia morado no exterior por quase uma década, e em condições bem mais adversas. É claro que o fato de o Marido ser diplomata facilitaria muito as coisas. Eles já se mudaram com um emprego estável e garantido, com recursos assegurados para alugar um bom apartamento, e com o apoio da Embaixada. Tudo somado, a situação do Casal era incomparavelmente mais sossegada do que a dos brasileiros que tentam a vida mundo afora, na maioria das vezes sem ter muita noção do que, de fato, encontrarão em seus destinos.

A Esposa não poderia exercer um trabalho remunerado em Helsinque. Brasil e Finlândia não haviam, até o momento, assinado um “Acordo sobre o Exercício de Atividades Remuneradas por parte de Dependentes do Pessoal Diplomático, Consular, Administrativo e Técnico”. Em outras palavras, além de eventuais trabalhos voluntários, a Esposa estava limitada a ser, exclusivamente, ao longo dos próximos anos... a Esposa. A ideia não a incomodava nem surpreendia: quando ela se casou com um diplomata, sabia que, em algum momento, acabaria tendo de abrir mão de maiores pretensões profissionais, se quisesse acompanhá-lo. A hora havia chegado, e era mais do que oportuna: o Posto para onde o Marido fora removido era muito bom, e a quantidade de trabalho em Brasília já começava a dar os primeiros sinais de prejuízo à saúde. Acumular anos de trabalho no exterior era, além de parte incontornável na carreira do Marido,  possibilidade de interromper, logo em seu início, um ciclo de stress que começara a enviar sinais bastante ruins.

Ela teria de se acostumar a reações de espanto e olhares estranhos – tanto dos amigos e amigas no Brasil quanto dos novos conhecidos na Finlândia – quando declarasse que não tinha emprego. Em uma sociedade pós-feminismo, parecia inconcebível para alguns que uma jovem mulher adulta, em plenas condições físicas e mentais, pudesse aceitar o mero papel de esposa. Por dentro, ela ria disso: sabia que não havia qualquer traço de machismo em seu casamento – pelo contrário, o Marido bem que gostaria de inverter papeis e não ter a responsabilidade de ser provedor único. Além disso, ela tinha a certeza da importância, difusa, mas inegável, que tinha no equilíbrio profissional e pessoal do Marido. “Depois de desembainhadas, as espadas tem de voltar para as bainhas. Depois da batalha, nada como repousar no colo da donzela”, comentava ele. A Esposa se sentia, na verdade, privilegiada. Sempre gostara de cozinhar, e de cuidar com atenção das chamadas “coisas de casa”. A parceria estabelecida naquele momento parecia bastante equilibrada.

Parecia injusto, para ela, era o tom de lamento na voz das pessoas comentavam que ela “não podia trabalhar”. Trabalhar, para ela, não seria só ir para um emprego remunerado e gerar renda. Uma casa bem administrada demanda providências em quantidade considerável, que vão desde o pagamento de contas até o contato com empresas prestadoras de serviços diversos, passando pela chatíssima administração dos ternos e gravatas obrigatórios para o Marido. O problema era que as pessoas, ao longo do tempo, haviam aprendido a associar o que era doméstico a algo pejorativo e de menor importância. Azar das pessoas. Ela estava feliz com sua nova vida, e sabia que, embora a situação pudesse ser considerada atípica nos dias de hoje, as recompensas eram muitas: com horários flexíveis, ela poderia ter mais tempo para ela própria e para o Marido, estudar o que bem quisesse, sair por aí tirando as fotos de flores que tanto gostava, e dar atenção especial aos amigos que futuramente os visitassem. Em dias de maior cansaço físico ou falta de inspiração culinária, tinha certeza que o Marido aceitaria contratar uma diarista e almoçar em um restaurante, para oferecer a ela uma merecida folga.

Isso sem mencionar a parte do trabalho do Marido que acabaria ecoando em sua vida. Jantares e recepções, para quem é de fora da carreira diplomática, parecem momentos de uma vida glamurosa e interessante. Mas, àquela altura, ela já sabia que um coquetel entre diplomatas não é diversão, é trabalho. Entre sorrisos e conversas aparentemente inócuas, alguns temas são sondados, informações são trocadas, contatos são estabelecidos. Não se trata de reunião entre amigos, com mero intuito de se divertir. Mesmo que a Esposa não fosse profissional das relações exteriores, nem possuísse conhecimentos mais especializados em política externa, haveria, sim, missões mais do que especiais para ela nessas ocasiões: estimular, sem dar lugar a uma falsa simpatia, o bom relacionamento com diplomatas e casais estrangeiros, e, dependendo do momento, garantir que os ambientes fossem os mais agradáveis possíveis. Caso estivesse do lado dos anfitriões, isso tudo teria de ser acompanhado por uma atenção redobrada aos bastidores, para que tudo acontecesse de forma precisa e suave. Não haveria qualquer possibilidade de vida tediosa, como apontavam alguns... seria diferente e bem-vindo.

(continua)

domingo, 19 de junho de 2011

Proporções


Tudo na vida se resume a proporções. E aqui eu nem me refiro à razão dourada, mística da natureza, e inspiradora de matemáticos, arquitetos, pintores renascentistas e escritores norte-americanos best sellers. Falo da percepção que temos de nossas experiências, condicionada, inevitavelmente, pelas comparações e analogias com o que vivenciamos anteriormente.

 
Às vésperas de completar 70 anos de idade, minha mãe, pela primeira vez, venceu os receios – com um empurrãozinho nada trivial por parte da nora -  e aventurou-se a sair do Brasil e conhecer um pouco da minha vida no exterior.  Em pouco mais de um mês, foram 4 países, perto de meio milhar de fotos, incontáveis quilômetros de caminhada turística, e uma quantidade... desproporcional... de informações e aprendizados.

Para mim, que por interesse e dever de ofício tenho contato constante com outros países, foi oferecida, além do prazer afetivo de ter a mamma por perto, uma oportunidade de acompanhar uma experiência mais pura, mais desprovida de um olhar acomodado e preguiçoso.


Foi, assim, impossível conter o sorriso ao ouvi-la comentar, durante um voo pela TAP, que “na minha época, para ser aeromoça, era preciso ser bonita”, ou, ao desembarcar no Aeroporto da Portela, acompanhar suas impressões sobre “um aeroporto enorme”, enquanto eu relembrava Heathrow ou LAX - meus padrões, por hora, de grandeza aeroportuária.

Minha mãe nasceu em uma cidade que, pelo censo de 2010, tinha 2.058 habitantes. Foi uma das primeiras mulheres a sair da região para estudar. Formou-se em Juiz de Fora e mudou-se para Brasília ainda na década de 1960, onde foi uma das responsáveis pela criação do programa de combate à tuberculose. 


Eu nasci em Brasília. Já sou filho de um Brasil urbano, e conhecer várias capitais brasileiras não me bastou. O comichão de conhecer outros países existiu desde a infância, embora só tenha se materializado muito tempo depois. Se, para minha mãe, percorrer o eixo Interior de Minas-Capital Federal já fora uma aventura de bom tamanho, para mim o Brasil era pouco. Nossas medidas de proporção eram diferentes.
 
Quando eu fui aprovado no concurso para Oficial de Chancelaria, tive uma conversa muito séria com ela, e alertei: “a partir de agora, para que mantenhamos um contato mais fluido, é preciso que a senhora aprenda duas coisas: inglês e informática. Minha vida, pela natureza do Ministério, será vivida parcialmente fora do Brasil, e essas duas ferramentas vão ser essenciais. A informática, para que nos comuniquemos de forma mais barata e frequente no dia a dia; o inglês, para quando a senhora for me visitar mundo a fora”. 

 
Por descrença ou desdém, me parece que, naquele momento, ela não levou a sério a possibilidade de que, um dia, uma filha de Aracitaba iria andar de bonde em Helsinque, percorrer as ruas de um bairro medieval em Estocolmo, ou admirar uma pintura do século XV em Talin. Isso tudo torna ainda mais prazeroso poder oferecer, a essas alturas da vida de alguém, a chance de uma nova mudança de proporções. 

Aparentemente, o vírus já se instalou... ao comentar, casualmente, durante uma refeição qualquer, sobre a possibilidade de eu voltar morar no Brasil, tive de ouvir o pedido de que “não volte ainda não, porque eu quero conhecer mais países”. Propositalmente, ou não, eis a sectio divina novamente. Missão cumprida. 


domingo, 17 de abril de 2011

Nosso fã!


Hoje estávamos no Siltanen, que é um lugar legal para tomar um brunch, quando nos deparamos com um fã do Blog. Então em homenagem ao Cassiano postei a nossa fotinha.

sábado, 2 de abril de 2011

Hyvää vuosipäivää !!!


- Ora, sejam bem-vindos!   Que bom que vocês puderam vir!  Entrem, entrem… isso, fiquem à vontade… podem deixar os casacos ali nos cabides e os sapatos no canto… É, não teve jeito, acabamos adotando o hábito dos finlandeses… também, com a rua eternamente meio molhada, meio elameada, é a melhor coisa mesmo, senão fica uma papa só a casa. A Flávia está ali no ballroom com o pessoal que já chegou… claro que não é um ballroom de verdade, mas a sala é tão grande que poderíamos dar um baile fácil, fácil. Ou jogar salibandy. Na verdade, a gente nem usa a sala… a gente come na cozinha mesmo, só nós dois…   Eu até uso, de vez em quando, o piano, para treinar um pouco… mas também, que coragem a minha, resolver aprender piano depois dos trinta e cinco… é que eu pensei assim “poxa, a proprietária deixou o piano, eu vou morar pelo menos dois anos com ele… não é possível que eu não tente ao menos aprender o básico…"

- É, o apartamento é enorme… e só eu e Flávia por aqui. Nem dá pra conversar um com o outro quando, por exemplo, eu estou no escritório e ela na cozinha. Mas temos de agradecer ao erário… não fosse a ajuda pra residência funcional, a gente jamais moraria bem assim, e perto da Embaixada! Oito minutos de bonde, quinze caminhando. Claro que eu não caminho, né… E olha que o auxílio está chegando mega regularmente, este mês chegou dentro do próprio mês!  Parabéns para o povo da DAEX, devem estar ralando bastante. Os móveis?  Bom, esses chiques aí, que parecem do século XIX, são da dona, que foi gente boníssima de deixar pra gente. O resto é bom gosto da Flávia e catálogo da IKEA combinados.


- Não, não, vocês não foram os primeiros a chegar não… já tem alguns convidados aí… mas vocês vão reparar que os finlandeses não vieram… só a Eija, mas ela não conta!  Ela morou no Brasil não sei quantos anos… morou no Ceará, é mais brasileira que todos nós. Mas o resto do pessoal daqui não veio… sei lá, eles sempre estão ocupados… Pra você ver… a gente fez essa festinha para finalmente receber o pessoal da Embaixada aqui em casa, para comemorar nosso primeiro ano na Finlândia, e para oferecer uma festa de despedida para a Nora. Pergunta se ela veio?

- Aliás, neste nosso primeiro ano aqui, se a gente pode reclamar de algo, é desse lado social… fazer amizade com os finlandeses não é nada fácil…É um tal de “vamos combinar um café” que nunca acontece de fato, ou de desmarcar algo já marcado porque “estive trabalhando muito” ou “surgiu um imprevisto”…  Culpa do Pekka… a gente conheceu ele no Brasil, e ele é tão divertido e bem humorado e amigável que a gente ficou com a impressão errada dos conterrâneos dele. Essa ausência de amigos me incomoda bastante, talvez mais do que à Flávia… ela está mais acostumada a estar longe do Brasil do que eu, fora que eu tinha uma turma grande e super ativa de amigos… sinto falta.

- Pra tentar sair desse marasmo, a gente recentemente até descobriu um povo que se entitula Jolly Dragon. Eles meio que se especializam em colocar em contato pessoas com os mesmos interesses… você se cadastra lá, expressa umas áreas de interesse, e aí começa a ser chamado para uns eventos. Fora que toda semana eles tem weekly welcomes para os novos associados. Temos conhecido algumas pessoas legais – até finlandeses, olha só !  Mas curiosamente, os anglo-falantes são os que temos mais afinidade… australianos, irlandeses, norte-americanos… 

 - Mas deixemos esse papo pesado de lado e vamos ali beliscar algumas das gulosei- mas que a Flávia fez. Ééééé, ela fez isso aí tudo sozinha, a moça é sensacional. Eu sou um sortudo! Só não dá pra ficar magro, né?  Ganhei, sei lá, uns cinco quilos depois que casei. Mas até dá pra emagrecer sim, quer saber?  Tem umas duas semanas que comecei a malhar com personal – claro que é o Lucas, quem mais seria? – e dar uma atenção à alimentação. Eu nem chamo aquilo de dieta, porque eu como tanto que canso… só que como coisas mais variadas, mais saudáveis, mais vezes ao dia. Nessa brincadeira uns quilinhos estão lentamente me abandonando, olha só… Poxa, havia anos que eu não baixava dos três dígitos, e cá estou eu. Magro eu não vou ser nunca, né?  Nem estou com noia disso não, é mais pra sair do sedentarismo. Os “enta” daqui a pouco chegam, né?

- Pois é, um ano já!  Dá pra acreditar?  Outro dia a gente estava chegando, todo perdido… o pobre do Lucas esperando a gente no aeroporto em plena Sexta-Feira Santa… o tempo corre… quando eu penso que, tecnicamente, já cheguei à metade da missão aqui !  É, em tese eu fico dois anos, é posto C… e como já fiquei um ano… claro que pode ser que prorrogue, mas sabe-se lá! Hoje a gente já conhece alguma coisa, a Flávia já domina o comércio, já temos restaurantes favoritos… é tudo questão de costume mesmo. Do finlandês – a língua, digo – a gente meio que já desistiu… além de ser difícil pra caramba, não vai ter uso depois.

- Mas sirva-se aí, deixa de cerimônia. Afinal, a gente tem de brindar! Mas deixa eu parar de tagarelar sobre nós e ouvir de vocês… como vai a vida?

quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

We are back... to the Cold!


0°C: essa é a temperatura do armário que utilizamos como dispensa, carinhosamente apelidado de "armário geladeira". O detalhe é que a geladeira de verdade costuma ficar a + 5°C...

terça-feira, 18 de janeiro de 2011

Blog de Férias

                      Queridos Leitores, estaremos de férias no Brasil até 12 de fevereiro!
                               Não esperem muitos posts até lá...  Mas... nunca se sabe...

terça-feira, 11 de janeiro de 2011

“Você não trabalha não?” - Parte 2


Julho
- 07/07: oficialização de convite ao Sr.Hanno Perkur, Ministro dos Assuntos Sociais da Estônia, para participar da I Conferência Mundial sobre o Desenvolvimento de Sistemas Universais de Seguridade Social, que viria a ser realizada entre 1o e 5 de dezembro, em Brasília;

14/07: gestões pró-candidatura do brasileiro Fábio Leite à diretoria-geral do Bureau de Radiocomunicações da União Internacional de Telecomunicações;

- análise de política interna sobre a aprovação de duas novas usinas nucleares pelo Parlamento finlandês: Olkiluoto e Simo/Pyhäjoki;

16/07: análise de política interna sobre a crise dos pequenos partidos na Estônia;

- divulgação, junto às autoridades locais de Finlândia e de Estônia, do III CONSEGI – Congresso Internacional sobre Software Livre e Governo Eletrônico, realizado entre os 18 e 20 do mês seguinte, em Brasília, como iniciativa conjunta da Escola de Administração Fazendária e do Serviço Federal de Processamento de Dados;

- 28/07: envio ao Brasil de pedido do Governo estoniano para que o Brasil auxiliasse a Estônia no contato com autoridades haitianas no contexto pós-terremoto de janeiro; 


- acompanhamento da montagem da exibição do Museu Oscar Niemeyer em Pieksämäki, entre 29/09 e 22/08, no âmbito do Programa de Difusão Cultural;

Agosto
- consulta sobre a posição da Finlândia em relação à descriminalização da folha de coca, ambição boliviana, no âmbito da Convenção Única de Entorpecentes (são contra);

- elaboração de lista com os principais órgãos de imprensa da Estônia, com vistas a atualizar os contatos da Assessoria de Imprensa do Gabinete;

24-27/08: apoio à participação da Sra.Márcia Ferran, do Ministério da Cultura, na 6a Conferência Internacional sobre Pesquisa em Políticas Culturais;

- 25/08: gestões, junto ao Departamento Cultural do MRE, para o reaproveitamento de recursos do Programa de Difusão Cultural pelo Centro Cultural Brasil-Finlândia, o que auxiliou na produção de peça teatral de encerramento do período letivo pelos alunos;

Setembro
- envio ao Brasil de mensagem de felicitações do Presidente da Estônia, Toomas Hendrik Ilves, e do Ministro dos Negócios Estrangeiros, Urmas Paet, por ocasião do Dia da Independência do Brasil;

- 07/09: apoio nos apertos de mão, sorrisos, e estímulo às interações sociais, na qualidade de co-anfitrião da recepção de Sete de Setembro – sem falar na comemoração do aniversário da esposa, que é no mesmo dia!;

- 10/09: envio de comunicação oficial ao Governo estoniano, por meio da qual se informou sobre a decisão de criar a Embaixada residente do Brasil em Talim (que orgulho, foi na “minha” gestão como desk! Minha filha Estônia já está mocinha!);

- 23/09: comparecimento à recepção em comemoração ao Dia Nacional do Reino da Arábia Saudita;  

- 29/09: comparecimento - e posterior relato a Brasília - ao seminário “Obama’s nuclear agenda and the challenges of non proliferation”, organizado pelo Instituto Finlandês de Relações Internacionais;

Outubro

- 07/10: comparecimento à cerimônia de abertura do 6o Festival de Cinema Latino-Americano CINEMAISSÍ;

- 14/10: participação na visita do corpo diplomático ao THL – Instituto Nacional para Saúde e Bem-Estar da Finlânda;

- 17/10: participação no seminário “Cancún: new hope for a global climate deal”, também do Instituto Finlandês de Relações Internacionais;

- 19/10: comparecimento à recepção em homenagem ao Dia das Forças Armadas da Polônia, bem como à exposição “Arte Contemporânea Eslovaca”, organizada pela Embaixada daquele país em Helsinque.

Novembro
- acompanhamento nas negociações do Acordo Brasil-União Europeia sobre Isenção de Vistos, assinado em 08/11. Embora não se tratasse de tema de responsabilidade direta da Embaixada, o referido Acordo, quando em vigor, permitirá que estonianos visitem o Brasil sem a necessidade de vistos – tema recorrente na agenda bilateral entre os dois países até então. Os funcionários do Setor Consular da vindoura Embaixada do Brasil em Talim agradecem;

- 11/11: envio de mensagem de felicitações do Presidente Toomas Ilves à candidata eleita Dilma Rousseff;

- 16/11: comparecimento à recepção, na Embaixada da Letônia, por ocasião da comemoração do 92o aniversário do país;


- 21-23/11: participação na delegação que representou o Brasil na 2a Reunião do Grupo Consultivo Ministerial sobre Governança Ambiental Internacional do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente. A delegação foi chefiada pela Embaixadora Ana Maria Fernandes, e igualmente integrada pelo Chefe da Assessoria Internacional do Ministério do Meio Ambiente, Fernando Lyrio. Foi minha primeira experiência de facto em uma reunião multilateral depois da remoção, e envolveu desde coordenações logísticas com os motoristas da Embaixada, até a revisão de trechos da declaração final, passando por conversas de pé de ouvido com representantes do G-77 e da delegação norte-americana, além da elaboração de um longo telegrama de relato após o evento.

25/11: comparecimento ao seminário “Oportunidades de Negócio em Angola”, realizado no Ministério dos Negócios Estrangeiros da Finlândia;

29/11:  comparecimento à exposição fotográfica MARUBI, organizada pela Cônsul-Geral Honorária da Albânia, por ocasião da Data Nacional do país;

Dezembro
- comparecimento ao 14o Festival de Cinema “Black Nights” de Talim, representando o Brasil, que apoiou a exibição de películas brasileiras no evento;

- 07/12: relatório e análise sobre o impacto do vazamento dos telegramas norte-americanos na Finlândia e na Estônia;

- 07/12: comparecimento, na qualidade de representante da Embaixada do Brasil, à partida Finlândia x Rússia, no âmbito da Copa do Mundo de Floorball – como já contei por aqui antes;

- 14/12: contatos na Estônia para divulgação do Concurso Itamaraty de Arte Contemporânea. Envolveu desde nosso Cônsul-Honorário até a Churrascaria Ipanema, em Talim.

- 23/12:  informação ao Cerimonial do Itamaraty que o Presidente e o Primeiro Ministro da Estônia não compareceriam à cerimônia de posse da Presidente eleita Dilma Rousseff, por motivos de agenda. “Agenda”, no caso específico, eram as celebrações, na virada do ano, da entrada da Estônia na zona do euro, e do “status” da cidade de Talim como Capital Europeia da Cultura.

- 23/12: envio de exemplares de publicação sobre a 4a Cúpula do IBAS – Fórum Brasil-Índia-África do Sul para as chancelarias, bibliotecas nacionais e principais parceiros acadêmicos na Finlândia e na Estônia;


Janeiro
- semanas de Natal, ano novo e todo janeiro:  elaboração dos programas do Departamento Cultural: Programa de Difusão Cultural; Programa de Divulgação da Realidade Brasileira e Programa do Audiovisual Brasileiro: de longe, a atividade mais trabalhosa desde que cheguei. Envolve contatos com artistas, com os potenciais locais para os eventos, firmas de impressão de convites, de aluguel de equipamentos de som, produtoras culturais que estabelecerão parcerias, estimativa de custos, etc. Tudo o que vai acontecer na Embaixada na área cultural tem de estar previsto e proposto para Brasília até o final de janeiro. O mais divertido é que, após todo o trabalho, e após criar expectativas tanto nos artistas quanto nos parceiros culturais locais, o Itamaraty, em geral, corta um bom tanto do que foi proposto.

***

Dá para suar um pouquinho, correto?  Talvez “suar” não seja o melhor termo, dada a temperatura.... E não podemos esquecer que, diariamente, temos de ler a “série telegráfica” – nossa correspondência interna sobre temas de interesse potencial da Embaixada -, além de recebermos uma síntese das principais notícias nacionais e internacionais, um boletim com um clipping da imprensa escrita finlandesa, e assinaturas do International Herald Tribune, IstoÉ, Carta Capital, Época, The Economist...  Não sei se algum dos meus colegas dá conta, mas eu já desisti do tsunami informacional e “faço o melhor que sou capaz só pra viver em paz”.

Desses exemplos de atividades – que servem também, espero, para subsidiar algumas pessoas que me procuram com dúvidas sobre tentar entrar na carreira diplomática ou não -, podemos intuir algumas coisas. Primeiro, diplomatas estão expostos aos riscos da LER – lesão por excesso de reuniões. Essa doença é mais grave quando se está trabalhando na SERE, em Brasília. O assembleísmo”, entretanto, é parte inevitável da carreira, o que causa uma sequência de reuniões, colóquios, seminários, conferências, encontros, etc.

Além disso, há que se saber um pouco, ou um tanto, de casa assunto. Em espaço de poucos dias – às vezes, de poucas horas – saímos de estudos e discussões sobre as tendências políticas de um país, passamos pela crise financeira internacional, flertamos com o futuro do meio-ambiente e damos palpite no design do convite de uma exposição, passando pelas preferências alimentares da autoridade que visitará o país.

Por fim, o que pode parecer cheio de glamour em alguns momentos, é tão trabalho quanto qualquer outro. Existe uma diferença muito grande em ir em uma festa para se divertir e participar de uma recepção – para a qual muitas vezes não se está com o menor humor para ir – com a função de estabelecer contatos, fazer gestões e conquistar o mundo.

Muito agradeceria receber comentários de Vossas Excelências sobre o que precede. E, como diríamos em nosso ultra-secretos telegramas: “sigo informando”.