Pics by Flavia Gois
quarta-feira, 23 de maio de 2012
sábado, 28 de abril de 2012
Kuvat - Amsterdam
Sonnet 18
Shall I compare thee to a
summer's day?
Thou art more lovely and more temperate.
Rough winds do shake the darling buds of May,
And summer's lease hath all too short a date.
Sometime too hot the eye of heaven shines,
And often is his gold complexion dimmed;
And every fair from fair sometime declines,
By chance, or nature's changing course untrimmed.
But thy eternal summer shall not fade
Nor lose possession of that fair thou ow'st;
Nor shall death brag thou wand'rest in his shade,
When in eternal lines to time thou grow'st,
Thou art more lovely and more temperate.
Rough winds do shake the darling buds of May,
And summer's lease hath all too short a date.
Sometime too hot the eye of heaven shines,
And often is his gold complexion dimmed;
And every fair from fair sometime declines,
By chance, or nature's changing course untrimmed.
But thy eternal summer shall not fade
Nor lose possession of that fair thou ow'st;
Nor shall death brag thou wand'rest in his shade,
When in eternal lines to time thou grow'st,
So long as men can breathe or eyes can see,
So long lives this, and this gives life to thee.
So long lives this, and this gives life to thee.
William Shakespeare
domingo, 22 de abril de 2012
Memorabília: De volta ao Brasil (parte final)
A primeira sensação da volta à
Pátria Amada foi a de um calor menos familiar do que deveria. Por mais que as
quase dez horas de condicionamento do ar no avião amenizassem o choque, sair de
cerca de cinco graus para perto de trinta não correspondeu à uma sensação de
alívio do frio, e sim de sufocamento com a sauna perene, e sem direito à
eucalipto, de Brasília. Em menos de dois meses, aparentemente, o corpo já
estava acostumado com um outro padrão de temperatura, e a perspectiva de ter de
trabalhar de terno nos dias seguintes não ajudava.
O segundo estranhamento foi o da compreensão e do ruído. Na Finlândia,
além de conviver com uma população extremamente econômica com a fala, a
completa ignorância da língua faz com que seja possível abstrair o que se passa
em volta – a ponto de, em algumas ocasiões, não percebermos quem alguém está se
dirigindo a você, para tirar uma dúvida ou avisar que um objeto supostamente de
nossa posse havia caído.
O Brasil é um país barulhento. Isso provavelmente significa mais
expressão de vida, mais interação, e, quiçá, mais alegria. Essa consciência
racional não bastou, entretanto, para evitar o incômodo com o nível de ruído
das pessoas esperando pelas malas ou encontrando parentes na saída da sala de
desembarque.
Para piorar, agora era possível entender, mais do que se gostaria, o que
diziam as pessoas ao meu redor. E o festival de bobagens, incorreções,
raciocínios rasos e masturbações da função fática criava uma estranha saudade do
eco da máquina de lavar roupa ligada em casa. Não se trata de crítica ou
esnobismo, apenas do assombro pessoal com a própria sensação de
não-pertencimento que se apossava mais rápido do que imaginado.
Havia o lado bom, claro. Ser chamado à serviço, para um dos raros
diplomatas nascidos e criados em Brasília, significava, por um lado, ser pago
para visitar os amigos e a família. Minha mãe não conteria o sorriso, não
haveria gastos com hoteis, e eu poderia matar saudade – quase inexistente, dado
o pouco tempo de missão transcorrido – de certos bares, restaurantes e
programas de TV.
O tal briefing no Ministério
foi rápido e algo decepcionante. As tais apresentações sobre as realidades
locais na área de CT&I foram completamente esquecidas, fazendo com que o
esforço do estudo em cima da hora tivesse gosto de inutilidade. Por outro lado,
pareceu real o entusiasmo das pessoas que lidavam com o tema, convencidos de que o caminho para um Brasil mais
desenvolvido passa pelo investimento em pesquisa, pelo estímulo à ciência, e
pela destruição das torres de marfim onde a academia busca isolar-se da
iniciativa privada. Um daqueles momentos nos quais é fácil concordar com as
instruções dadas, e que o trabalho parece efetivamente relevante. Um daqueles
momentos em que a opinião daqueles que insistem em dizer que todo servidor
público é um burocrata preguiçoso e pouco proativo parece um pouco mais
obsoleta.
A participação na Conferência, em si, é sempre um pouco menos focada.
Como qualquer outro evento daquele porte, as apresentações são sempre rápidas,
fazendo com que sejam ou óbvias demais, pela opção panorâmica, ou parcialmente
incompreensíveis, caso os especialistas atenham-se a detalhes. Vale, como toda reunião sobre qualquer
tema, pelos contatos pessoais, pelas trocas de cartões, e pela oportunidade de
aprender um pouco mais sobre os inúmeros programas que diversos setores do
governo (mais), da iniciativa privada (menos) e da sociedade civil (hein?) têm
desenvolvido. Para um ex-concursando para o Rio Branco, valeu também pela
oportunidade de conhecer, pessoalmente, Bertha Becker, que tantas horas a meu
lado nos meses que antecederam a prova de geografia, e que deixava de ser um
nome em uma lista de indicação bibliográfica e passava a ser uma palestrante
sabida na vida real.
A panaceia da vez é a inovação. Investir em inovação nos torna mais competitivos,
ricos, bonitos e inteligentes. A inovação é o pulo do gato, o início, o fim e o
meio. Em torno do conceito, você pode organizar uma palestra atraente,
praticamente sobre qualquer assunto… design
e inovação; a década da inovação; conhecimentos tradicionais dos
ribeirinhos da Amazônia e inovação; filé com bacon e inovação… De forma não surpreendente,
e que faz pensar, o significado da palavra, em finlandês, está diretamente
ligado algo concreto, a um novo produto, e não a uma ideia abstrata quase
religiosa.
O dado especial é que o evento foi organizado precisamente no mesmo
hotel em que passei minha noite de núpcias. E o Brasil que me perdoe, mas as
lembranças daquele dia foram, em alguns momentos, mais fortes do que a
relevância da inclusão social nas inovações em prol do desenvolvimento
sustentável, ou a incoerência entre o reconhecimento retórico da importância da
ciência e o comprometimento orçamentário a ela destinado.
Ao final da 4a CNTCI, a sensação era a de um aprendizado intenso em
curto espaço de tempo, de um trabalho difuso, ainda que bem intencionado, e de
uma imensa saudade de casa. O momento de insight,
inesperado, foi aquele em que não tinha mais certeza sobre a que casa eu me
referia…
PS: O texto faz parte da Sessão
Memorabília, e faz referência a fatos ocorridos no fim de maio de 2010.
quarta-feira, 11 de abril de 2012
Memorabília: De volta ao Brasil (interlúdio)
Conexões lusitanas
A cultura e o imaginário brasileiro
está repleto de construções conceituais e referências diversas às cadeias de
raciocínio e às opções de elocução por parte de nossos ex-metropolitanos
portugueses. Como diplomata, é parte do meu treinamento e, ousaria dizer, do
meu dever de ofício desconstruir preconceitos arraigados nesses estereótipos.
Mas às vezes os próprios objetos dessas visões limitadas não ajudam…
O itinerário mais direto que levava de Helsinque a Brasília, e evitava a
obrigação de passar por Rio ou por São Paulo, previa uma conexão em Lisboa. A
desvantagem dos voos era a permanência em solo durante longas horas, embora
isso permitisse algum tempo para descanso e passeio.
Eu já visitara a capital portuguesa em outras oportunidades, o que me
fez dar preferência por reservar um hotel próximo ao Aeroporto da Portela,
dormir um pouco, e, quem sabe, passear no Centro Comercial Vasco da Gama, para
matar o tempo.
Entrei no táxi na saída do Aeroporto, ainda grogue de sono, devido ao
horário ingrato da partida desde Helsinque – 5 horas da manhã – e recebi a
primeira garantia que não estava mais na Finlândia. Ao instruir o motorista,
comentei que iria para um hotel não muito longe dali. O patrício retrucou, nada
carinhoso…
- “Ora, mas se é perto, porque é que não vais a pé?”
A falta de energia me impediu de responder algo à altura, que envolvesse
a referência à genealogias ou orifícios corporais. Sorri amarelo, paguei a
corrida – sem gorjeta, obviamente - e dormi boas horas de sono garantidas por
um early check in.
Como programado, almocei no Vasco da Gama, e pude reparar que a quase
totalidade dos atendentes em restaurantes ou lanchonetes eram ou brasileiros,
ou nacionais de países africanos de língua portuguesa. De certa forma, isso
aumentava a simpatia do serviço. Outra rápida percepção foi a de o custo de
vida em Lisboa era bem mais baixo do que em Helsinque, a julgar pelo preço dos
alimentos.
Uma sessão de cinema e um passeio pela FNAC deram sequência à tarde
agradável. Senti um daqueles pequenos prazeres da vida ao entender as manchetes
nos jornais e revistas. Mal tinha noção do quanto isso fazia falta no dia-a-dia
de semi-analfabetismo em Helsinque.
Entender a língua local me fez, em seguida, não conter o riso, ao passar
pelas prateleiras de filmes à venda, e reparar as curiosas diferenças entre
Brasil e Portugal, nas traduções dos títulos dos filmes. Assim, “O Planeta dos
Macados” anuncia “O homem que veio do futuro”, “Um corpo que cai” é “A mulher
que viveu duas vezes” e o “Cidadão Kane” tem “O mundo a seus pés”.
Percebi que era hora de voltar ao aeroporto e desistir momentaneamente
de Portugal quando decidi tomar um café no quiosque mais próximo. Relato, sem
adaptações ou comentários:
- Por favor, um expresso duplo.
- Na xícara grande ou na xícara pequena?
(sem entender bem a razão
da pergunta, mas optando pela segurança):
- Uhmm.. na xícara grande?
- Ai, que bom, então… Não iria mesmo caber na xícara pequena…
Fim do interlúdio
(continua)
segunda-feira, 9 de abril de 2012
Memorabilia: De volta ao Brasil (parte I)
Um dos mantras inescapáveis que
invade os ouvidos dos candidatos
ao concurso do Instituto Rio Branco, ou aos seus alunos recém-aprovados,
conta que tamanho era o reconhecimento das Chancelarias vizinhas à excelência
da diplomacia brasileira, que era comum ouvir entre os colegas que “o Itamaraty
não improvisa”.
Certamente não era nisso que eu pensava naquela quarta-feira à noite.
Estava, provavelmente, navegando à toa na Internet, quando o celular
recém-adquirido soou os acordes do jingle
da BBC, anunciando que alguém do trabalho me ligava. A mobília ainda não havia
sido recebida, e os espaços vazios do enorme apartamento, parcamente
preenchidos com alguns móveis da Ikea,
fizeram o toque ecoar de forma falsamente grandiosa.
O identificador de chamadas mostrava o número de telefone do plantão
consular. O que teria acontecido?
Em tese, eu não era diretamente responsável pela área de atendimento a
brasileiros, mas, como típico Secretário em início de carreira – e creio que esse
privilégio não se resuma a esse primeiro momento - , era passível de
convocação a qualquer momento.
Cecília, nossa Oficial de Chancelaria responsável pelas comunicações do
Posto, me informou sem maiores introduções, de que eu deveria estar em Brasília
na segunda-feira seguinte, chamado a serviço para participar de algum evento
como representante da Embaixada. “Hein?”, elaborei rebuscadamente. Ela não
tinha maiores detalhes naquele momento, mas eu deveria entrar em contato com a
Divisão de Ciência e Tecnologia da Secretaria de Estado.
Feito o contato com Brasília, e após conversar com o Embaixador Armando,
para entender melhor o que acontecia, descobri que o Itamaraty havia
identificado alguns países-chave – entre eles a Finlândia – como potenciais
parceiros prioritários na área de ciência e tecnologia, e instruía nossas
Embaixadas nesses países a enviar representante para participar da 4a
Conferência Nacional de Ciência, Tecnologia e Inovação (4a CNTCI).
A Conferência teria o título pomposo de “Política de Estado para
Ciência, Tecnologia e Inovação com vista ao Desenvolvimento Sustentável”, e
seria realizada em Brasília dali a menos de uma semana. Os convocados deveriam
chegar um dia antes do encontro, para um briefing
com então Subsecretário-Geral de Energia e Alta Tecnologia do Itamaraty,
durante o qual era esperado que apresentassem algumas impressões sobre o tema
da Conferência no âmbito dos países em que serviam.
A responsável pelo tema de Ciência e Tecnologia na Finlândia era a
Ministra Mônica, que, inclusive, desenvolvia pesquisa sobre o país nórdico como
ambiente de inivação. Seria o caso de ela representar a Embaixada, não fosse o
fato de ser bem mais complicado, em tão curto espaço de tempo, organizar a
logística de uma casa com dois filhos para o período de sua ausência.
No dia seguinte, a Ministra me passou algumas indicações de leituras, e
a corrida contra o tempo começou.
Há menos de dois meses no Posto, e mantendo minhas atenções sobre a
Estônia, e não sobre a Finlândia, fui introduzido a um emaranhado de
intituições, órgãos e suas siglas – AKA, Tekes, VTT - partícipes, cada um a sua maneira, do esfoço finlandês
para promover a pesquisa científica e sua interlocução imediata com o setor produtivo.
E, acreditem, a Finlândia aloca bastante energia e recursos para isso…
Enquanto tentava montar resumos, tabelasm diagramas e fluxogramas para
entender a estrutura e as políticas de todo um setor de um país, mantinha esforço
logístico paralelo para fazer a inscrição na Conferência, superar as
burocracias internas do Itamaraty para aquisição do bilhete aéreo – com o
sempre traumático formulário de PPV (Providências para Viagem) - e tentar reduzir
ao máximo o volume de bagagem – algo sempre complicado quando se trabalha quase
sempre de terno.
Foi assim que, sem qualquer improviso, embarquei quatro dias depois do telefonema, entre anotações e ansiedades, surpreendentemente
de volta ao Brasil muito antes do que imaginava.
(continua)
segunda-feira, 2 de abril de 2012
sábado, 31 de março de 2012
Querido Papai Noel
Querido Papai Noel,
A Tia Adélia pediu para a gente escrever uma redação sobre as férias.
Eu falei para ela que queria escrever uma carta para você, já que eu tinha
visitado você nas minhas férias. Ela deixou porque ela é muito legal.
Você sabe que eu moro com meu papai no Brasil, né, Papai Noel? Mas minha mamãe mora aí perto de você
na Finlândia e eu fui passar minhas férias com ela.
Todo mundo diz que eu sou filho de uma tal de Glob... Goblali... Globalização,
porque eu nasci em Los Angeles, moro em Brasília e vou passear em Helsinque,
mas eu sou filho da mamãe Flávia e do papai Eduardo, não dessa outra moça.
Na casa da minha mãe é muito legal. Ela me ensinou a cozinhar, e me
chamava de sous-chef. Ela só não
deixava eu mexer com fogo, porque dizia que era perigoso eu me queimar. Eu
gostava quando ela botava um negócio na comida e o fogo ficava super alto.
O marido da mamãe é o Dani, e ele é muito bravo. Minha mamãe fala que
ele não é bravo, só é sério, porque o trabalho dele deixa ele muito cansado. Às
vezes ele jogava videogame comigo e
eu achava muito legal. Ele me ensinou as notas no piano, mas eu já esqueci. Ele
também me mostrou o filme do C3PO. Ele é engraçado. O Dani e o C3PO.
Uma vez o Dani levou eu e a mamãe para nadar em uma piscina. Era uma
piscina dentro de uma casa, Papai Noel!
Eu nunca tinha visto! A água era quentinha, e a gente podia escorregar
em umas boias. O Dani pulou de um lugar muito alto. Deve ter doído, porque ele
fez uma cara estranha quando saiu da água.
De vez em quando o Tio Lucas vinha brincar comigo também. Ele é muito
legal. A gente via desenho na televisão e jogava videogame. O Tio Lucas sempre
me dava um biscoito de chocolate que só ele sabia onde comprar. Eu gostava
muito dele. Do biscoito e do Tio Lucas.
Minha mamãe me levou para conhecer o William, que tem quatro anos. Eu
tenho cinco anos. O William é filho da Tia Maura, que trabalha no trabalho do
Dani. Ela deixou a gente ir na sauna, e eu achei muito legal. É quentinho, dá
vontade de ficar lá.
A Tia Maura e o Tio Kari levaram a gente para esquiar. O Dani ficava caindo
o tempo todo. Eu achei engraçado. Eu gostei um pouco de esquiar, mas gostei muitão
de brincar no túnel de gelo com o William.
Perto da minha casa tinha uma montanha de neve bem grandona, e minha mãe
me levava lá às vezes para eu brincar com meu esquibunda. O Dani tem muito
dinheiro, porque ele me deu um esquibunda e um relógio.
Minha mamãe me dava banho de banheira todos os dias, e eu gostei,
porque eu podia brincar com meu barco e com meu patinho de borracha vermelho.
Mas eu gostava de verdade era da bomba de espuma que a Tia Maria Clara deu para
a minha mamãe, porque eu podia ficar escondido atrás da espuma.
Eu gostei muito das minhas férias porque eu andei de trem, de barco, de
bonde e de metrô. Eu que apertava o botão para o bonde parar e para o elevador
subir. Para entrar no prédio da mamãe tinha de apertar um recódigo, e eu que
apertava.
Eu ajudei a mamãe a montar a árvore de Natal. Ficou muito grande e muito
bonita. Tinha bolas coloridas, luzes e umas corujas, porque o Dani gosta muito
de corujas. Mas ele não gosta de Natal, então não entendi nada. A gente deixou
biscoito e leite para você e você comeu tudo, né, Papai Noel ?
Todo dia a gente desenhava na geladeira uma carinha feliz ou triste, para
dizer se eu tinha me comportado ou não. Eu que desenhava as carinhas. Tinha
mais carinhas felizes, mas eu ficava triste com as carinhas tristes porque
minha mamãe ficava triste também.
Papai Noel, você lembra que minha mamãe me levou para conhecer sua casa?
Eu achei muito bonita. A mamãe e a casa. Ouvi o Dani dizer que o nome do lugar
onde fica sua casa é Lapônia, e que lá é que inventaram uma tal de lap dance, mas acho que é mentira,
porque minha mamãe olhou para ele com a cara feia.
A gente andou no trenó com as renas, escreveu carta no seu correio para
o Vovô Messias e para a Vovó Cacilda e para a Vovó Doroti e para o Tio Sérgio e
para o Tio Guga, e foi naquele escorregador de gelo. Eu sei porque aquilo chama
escorregador, Papai Noel ! É
porque a gente escorrega quando tenta chegar perto dele, né? Eu só fiquei triste porque aqui ninguém
acreditou quando eu contei que a gente andou de motinha em cima de um lago
congelado, mas você sabe que foi de verdade, né?
Depois a gente foi em um hotel todo feito de gelo. O moço de lá me deu
um copinho feito de gelo. Era muito legal, mas eu não queria dormir naquele
frio não. Deve ser só de brincadeira.
Aí a gente foi ver um negócio no ceu que eu não entendi bem. Minha
mamãe e o Dani e o Tio Bruno e a Tia Carol ficaram um tempão olhando para o ceu
porque ia aparecer uma luz verde. Eu achei chato. Ainda bem que eu tinha meu
joguinho, porque a luz nem apareceu.
Aqui no Brasil a Tia Adélia e os meus coleguinhas ficam me perguntando
se eu fiquei com frio. Frio é legal porque tem neve. Eu não gostava de usar um
monte de casaco e luva, mas minha mamãe falou que era importante, e aí eu podia
pular na neve. Ela e o Dani ficavam rindo quando eu tentava enfiar a cabeça na
neve, mas era muito legal. Meu primeiro gorro favorito era o colorido e meu
segundo gorro favorito era o gorro verde.
Estou com saudade da neve, Papai Noel. Da neve e da mamãe. Então eu
prometo me comportar e ser um menino bonzinho, para você me dar presente. O
presente que eu quero é que as férias cheguem logo de novo, para eu poder
voltar a visitar a mamãe.
Cuida direitinho dela para mim, tá? Da neve e da mamãe.
Um abraço do
P.S: As fotos que abrem e fecham este post são de Cristina Rijskamp,
a quem muito agradeçemos.
terça-feira, 27 de março de 2012
Refeição Urbana
Há pessoas que possuem uma relação afetiva com a
comida mais intensa do que seria aconselhável. Além da compulsão por
determinados alimentos e do aumento da probabilidade de encontrar-se em
condição de sobrepeso ou obesidade, as emoções podem começar a estar associadas
à comida. Assim, em vez de fazer um carinho no seu filho ou parceiro, você
oferece (ou pede) um chocolate, e acha que está tudo bem.
Ao morar no exterior, essa associação entre comida e
afeto tende a intensificar-se. Embora seja possível encontrar boa parte dos
produtos necessários para preparar iguarias saudosas – ou improvisar algo de
qualidade, em especial quando se é casado com uma alquimista da culinária -, há
alguns vazios no coração (estômago?) impossíveis de preencher: seu prato
favorito naquele restaurante
específico, há vinte anos feito pelo mesmo cozinheiro, que você já conhece pelo
nome; o tempero característico da sua mãe (da sua, não da minha, que,
farmacêutica, sempre preferiu cozinhar bactérias do que comida); o cachorro quente vendido na
esquina da sua casa ou na saída de sua escola, eventualmente produzido em
condições de higiene que só incrementam a explosão de sabores oferecida…
Não foi, assim, com surpresa ou vergonha, que nos pegamos
redigindo uma lista de restaurantes, lanchonetes, botecos e quiosques a serem
visitados em nossas rápidas passagens de férias no Brasil. Uma verdadeira
turnê de quilos a serem ganhos,
que inclui desde pratos típicos do Nordeste até a fast food made in cerrado,
passando por um número de idas a churrascarias maior do que recomendado por
médicos ou por consultores financeiros.
Hoje, aproveitando um retorno de viagem ao Brasil, e o
aniversário - 27 de março – do Trovador Solitário, eu ofereço a vocês nossa singela
homenagem aos brasileiros gastronomicamente expatriados:
Há trempes
Parece cocaína, mas é só farinha
talvez seja farofa...
Muitos temores nascem na viagem
e na imigração
A tapioca e o polvilho
temperos são a glória da cozinha brasileira
E há tempos fiz um lanche
fui comendo, fui comendo...
Teu pão de queijo está queimado
e ainda assim acho bonito
Já estamos desacostumados
a comer essas delícias
A fome vem e a fome vai
e o resto é gula mesmo...
Dissestes que um pedaço só
não ia fazer mal
à saudade que se sente
E o cheiro atrairia
todo mundo lá pra casa
Foi a vizinhança inteira...
E há tempos
Lembro tanto da comida
servida requentada
E há tempos eu não como feijão preto
E há tempos o churrasco está ausente
E o pastel foi esquecido
E só o acaso estende os braços
A quem procura
angu e requeijão...
Meu amor!
Cervejinha com batata,
tira gosto, calabresa
Caipirinha é com cachaça
(Ela disse)
Lá em casa tem um pouco
e a panela está quentinha.
PS 1: Agradecimentos a Leandra Felipe e Bruno Santos, coautores de
alguns dos versos.
PS 2: Se você é um dos 99,999% dos leitores que não são feitos de
madeira, eu não preciso mostrar o link. Mas se você esteve em coma nos últimos
23 anos e não conhece a música original, ilumine-se em: http://www.youtube.com/watch? v=h3zzDSpYPR8.
sexta-feira, 17 de fevereiro de 2012
quinta-feira, 16 de fevereiro de 2012
A21 walk in the Forest
Para celebrar o nosso Golden Jubilee in Months – nome bonito para 50 meses de namoro - decidimos ignorar o frio que fazia lá fora e fazer um programa tipicamente finlandês: aventurar-nos pela floresta, sentir toda multiplicidade de estímulos da natureza ao nosso redor.
Começamos com uma explosão de frutas vermelhas no céu da boca, seguida de uma sauna que deixou uma deliciosa sensação de frescor e pureza. Ainda preenchidos por esse prazer, saímos de lá para sentir a terra úmida e crocante da floresta, e o cheirinho de ervas molhadas pelo orvalho da manhã.
Cansados da caminhada, fomos tomar um banho nas aguas tranquilas e doces de um riacho que encontramos, aproveitando a beleza natural e a flora de suas margens, pontilhada por milhares de espinheiros marítimos, o que nos lembrou um caviar vegetal. Após o mergulho, para no secar, andamos entre as bétulas, com suas folhas suaves e caule de casca branca acinzentada, de onde bebemos sua seiva e nos deliciamos com o cheiro da sua madeira queimada. Encontramos ali uma pequeno pacote de papel pardo, que, quando aberto, revelou mais raspas da casca daquelas plantas.
Mais à frente, avistamos uma área de brejo, cercada por um campo de cevada. Ao longe, discernimos alguns javalis desfrutando dos arbustos de amora-ártica, com suas frutinhas amarelas e de gosto peculiar.
Já exaustos, mas felizes, decidimos nos deitar nos campos dourados de aveia e experimentar sua fragrância e textura aprazível.
O pequeno detalhe é que isso tudo ocorreu às 7h30 da noite, com uma temperatura de -80C, e eu usando salto alto...
***
Na verdade, fomos a um restaurante aqui em Helsinque chamado A21 Dining, O lugar conta com quatro ambientes distintos... nossa mesa ficava em um salão totalmente branco, das paredes às cadeiras e toalhas de mesa. Por incrível que pareça, o resultado não foi opressivo, porque as luzes suaves e mornas tornam o ambiente bem aconchegante.
Voltaremos em breve para experimentar o menu da proxima estação, aguardem.
P.S. 1 o Casal Ducci não está recebendo qualquer dinheiro para fazer esse merchan... o lugar merece... (http://www.a21.fi/dining)
P.S. 2 desculpe pelas fotos desfocadas, a emoção era muito grande.
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