quarta-feira, 23 de maio de 2012

Kevään kuvia






 



Pics by Flavia Gois

sábado, 28 de abril de 2012

Kuvat - Amsterdam



Sonnet 18

Shall I compare thee to a summer's day?
Thou art more lovely and more temperate.
Rough winds do shake the darling buds of May,
And summer's lease hath all too short a date.
Sometime too hot the eye of heaven shines,
And often is his gold complexion dimmed;
And every fair from fair sometime declines,
By chance, or nature's changing course untrimmed.
But thy eternal summer shall not fade
Nor lose possession of that fair thou ow'st;
Nor shall death brag thou wand'rest in his shade,
When in eternal lines to time thou grow'st,
So long as men can breathe or eyes can see,
So long lives this, and this gives life to thee.

William Shakespeare



domingo, 22 de abril de 2012

Memorabília: De volta ao Brasil (parte final)

A primeira sensação da volta à Pátria Amada foi a de um calor menos familiar do que deveria. Por mais que as quase dez horas de condicionamento do ar no avião amenizassem o choque, sair de cerca de cinco graus para perto de trinta não correspondeu à uma sensação de alívio do frio, e sim de sufocamento com a sauna perene, e sem direito à eucalipto, de Brasília. Em menos de dois meses, aparentemente, o corpo já estava acostumado com um outro padrão de temperatura, e a perspectiva de ter de trabalhar de terno nos dias seguintes não ajudava.

O segundo estranhamento foi o da compreensão e do ruído. Na Finlândia, além de conviver com uma população extremamente econômica com a fala, a completa ignorância da língua faz com que seja possível abstrair o que se passa em volta – a ponto de, em algumas ocasiões, não percebermos quem alguém está se dirigindo a você, para tirar uma dúvida ou avisar que um objeto supostamente de nossa posse havia caído.

O Brasil é um país barulhento. Isso provavelmente significa mais expressão de vida, mais interação, e, quiçá, mais alegria. Essa consciência racional não bastou, entretanto, para evitar o incômodo com o nível de ruído das pessoas esperando pelas malas ou encontrando parentes na saída da sala de desembarque.

Para piorar, agora era possível entender, mais do que se gostaria, o que diziam as pessoas ao meu redor. E o festival de bobagens, incorreções, raciocínios rasos e masturbações da função fática criava uma estranha saudade do eco da máquina de lavar roupa ligada em casa. Não se trata de crítica ou esnobismo, apenas do assombro pessoal com a própria sensação de não-pertencimento que se apossava mais rápido do que imaginado.

Havia o lado bom, claro. Ser chamado à serviço, para um dos raros diplomatas nascidos e criados em Brasília, significava, por um lado, ser pago para visitar os amigos e a família. Minha mãe não conteria o sorriso, não haveria gastos com hoteis, e eu poderia matar saudade – quase inexistente, dado o pouco tempo de missão transcorrido – de certos bares, restaurantes e programas de TV.

O tal briefing no Ministério foi rápido e algo decepcionante. As tais apresentações sobre as realidades locais na área de CT&I foram completamente esquecidas, fazendo com que o esforço do estudo em cima da hora tivesse gosto de inutilidade. Por outro lado, pareceu real o entusiasmo das pessoas que lidavam com o tema, convencidos  de que o caminho para um Brasil mais desenvolvido passa pelo investimento em pesquisa, pelo estímulo à ciência, e pela destruição das torres de marfim onde a academia busca isolar-se da iniciativa privada. Um daqueles momentos nos quais é fácil concordar com as instruções dadas, e que o trabalho parece efetivamente relevante. Um daqueles momentos em que a opinião daqueles que insistem em dizer que todo servidor público é um burocrata preguiçoso e pouco proativo parece um pouco mais obsoleta.

A participação na Conferência, em si, é sempre um pouco menos focada. Como qualquer outro evento daquele porte, as apresentações são sempre rápidas, fazendo com que sejam ou óbvias demais, pela opção panorâmica, ou parcialmente incompreensíveis, caso os especialistas atenham-se a detalhes.  Vale, como toda reunião sobre qualquer tema, pelos contatos pessoais, pelas trocas de cartões, e pela oportunidade de aprender um pouco mais sobre os inúmeros programas que diversos setores do governo (mais), da iniciativa privada (menos) e da sociedade civil (hein?) têm desenvolvido. Para um ex-concursando para o Rio Branco, valeu também pela oportunidade de conhecer, pessoalmente, Bertha Becker, que tantas horas a meu lado nos meses que antecederam a prova de geografia, e que deixava de ser um nome em uma lista de indicação bibliográfica e passava a ser uma palestrante sabida na vida real. 


A panaceia da vez é a inovação. Investir em inovação nos torna mais competitivos, ricos, bonitos e inteligentes. A inovação é o pulo do gato, o início, o fim e o meio. Em torno do conceito, você pode organizar uma palestra atraente, praticamente sobre qualquer assunto… design e inovação; a década da inovação; conhecimentos tradicionais dos ribeirinhos da Amazônia e inovação; filé com bacon e inovação… De forma não surpreendente, e que faz pensar, o significado da palavra, em finlandês, está diretamente ligado algo concreto, a um novo produto, e não a uma ideia abstrata quase religiosa.

O dado especial é que o evento foi organizado precisamente no mesmo hotel em que passei minha noite de núpcias. E o Brasil que me perdoe, mas as lembranças daquele dia foram, em alguns momentos, mais fortes do que a relevância da inclusão social nas inovações em prol do desenvolvimento sustentável, ou a incoerência entre o reconhecimento retórico da importância da ciência e o comprometimento orçamentário a ela destinado.

Ao final da 4a CNTCI, a sensação era a de um aprendizado intenso em curto espaço de tempo, de um trabalho difuso, ainda que bem intencionado, e de uma imensa saudade de casa. O momento de insight, inesperado, foi aquele em que não tinha mais certeza sobre a que casa eu me referia…


PS: O texto faz parte da Sessão Memorabília, e faz referência a fatos ocorridos no fim de maio de 2010.

quarta-feira, 11 de abril de 2012

Memorabília: De volta ao Brasil (interlúdio)

Conexões lusitanas

A cultura e o imaginário brasileiro está repleto de construções conceituais e referências diversas às cadeias de raciocínio e às opções de elocução por parte de nossos ex-metropolitanos portugueses. Como diplomata, é parte do meu treinamento e, ousaria dizer, do meu dever de ofício desconstruir preconceitos arraigados nesses estereótipos. Mas às vezes os próprios objetos dessas visões limitadas não ajudam…

O itinerário mais direto que levava de Helsinque a Brasília, e evitava a obrigação de passar por Rio ou por São Paulo, previa uma conexão em Lisboa. A desvantagem dos voos era a permanência em solo durante longas horas, embora isso permitisse algum tempo para descanso e passeio.  

Eu já visitara a capital portuguesa em outras oportunidades, o que me fez dar preferência por reservar um hotel próximo ao Aeroporto da Portela, dormir um pouco, e, quem sabe, passear no Centro Comercial Vasco da Gama, para matar o tempo.

Entrei no táxi na saída do Aeroporto, ainda grogue de sono, devido ao horário ingrato da partida desde Helsinque – 5 horas da manhã – e recebi a primeira garantia que não estava mais na Finlândia. Ao instruir o motorista, comentei que iria para um hotel não muito longe dali. O patrício retrucou, nada carinhoso…

- “Ora, mas se é perto, porque é que não vais a pé?”

A falta de energia me impediu de responder algo à altura, que envolvesse a referência à genealogias ou orifícios corporais. Sorri amarelo, paguei a corrida – sem gorjeta, obviamente - e dormi boas horas de sono garantidas por um early check in.

Como programado, almocei no Vasco da Gama, e pude reparar que a quase totalidade dos atendentes em restaurantes ou lanchonetes eram ou brasileiros, ou nacionais de países africanos de língua portuguesa. De certa forma, isso aumentava a simpatia do serviço. Outra rápida percepção foi a de o custo de vida em Lisboa era bem mais baixo do que em Helsinque, a julgar pelo preço dos alimentos.
 
Uma sessão de cinema e um passeio pela FNAC deram sequência à tarde agradável. Senti um daqueles pequenos prazeres da vida ao entender as manchetes nos jornais e revistas. Mal tinha noção do quanto isso fazia falta no dia-a-dia de semi-analfabetismo em Helsinque.

Entender a língua local me fez, em seguida, não conter o riso, ao passar pelas prateleiras de filmes à venda, e reparar as curiosas diferenças entre Brasil e Portugal, nas traduções dos títulos dos filmes. Assim, “O Planeta dos Macados” anuncia “O homem que veio do futuro”, “Um corpo que cai” é “A mulher que viveu duas vezes” e o “Cidadão Kane” tem “O mundo a seus pés”.

Percebi que era hora de voltar ao aeroporto e desistir momentaneamente de Portugal quando decidi tomar um café no quiosque mais próximo. Relato, sem adaptações ou comentários:

- Por favor, um expresso duplo.
- Na xícara grande ou na xícara pequena?

 (sem entender bem a razão da pergunta, mas optando pela segurança):

- Uhmm.. na xícara grande?
- Ai, que bom, então… Não iria mesmo caber na xícara pequena…


Fim do interlúdio

(continua)

segunda-feira, 9 de abril de 2012

Memorabilia: De volta ao Brasil (parte I)

Um dos mantras inescapáveis que invade os ouvidos dos candidatos  ao concurso do Instituto Rio Branco, ou aos seus alunos recém-aprovados, conta que tamanho era o reconhecimento das Chancelarias vizinhas à excelência da diplomacia brasileira, que era comum ouvir entre os colegas que “o Itamaraty não improvisa”.

Certamente não era nisso que eu pensava naquela quarta-feira à noite. Estava, provavelmente, navegando à toa na Internet, quando o celular recém-adquirido soou os acordes do jingle da BBC, anunciando que alguém do trabalho me ligava. A mobília ainda não havia sido recebida, e os espaços vazios do enorme apartamento, parcamente preenchidos com alguns móveis da Ikea, fizeram o toque ecoar de forma falsamente grandiosa.

O identificador de chamadas mostrava o número de telefone do plantão consular. O que teria acontecido?  Em tese, eu não era diretamente responsável pela área de atendimento a brasileiros, mas, como típico Secretário em início de carreira – e creio que esse privilégio não se resuma a esse primeiro momento - , era passível de convocação  a qualquer momento.

Cecília, nossa Oficial de Chancelaria responsável pelas comunicações do Posto, me informou sem maiores introduções, de que eu deveria estar em Brasília na segunda-feira seguinte, chamado a serviço para participar de algum evento como representante da Embaixada. “Hein?”, elaborei rebuscadamente. Ela não tinha maiores detalhes naquele momento, mas eu deveria entrar em contato com a Divisão de Ciência e Tecnologia da Secretaria de Estado.

Feito o contato com Brasília, e após conversar com o Embaixador Armando, para entender melhor o que acontecia, descobri que o Itamaraty havia identificado alguns países-chave – entre eles a Finlândia – como potenciais parceiros prioritários na área de ciência e tecnologia, e instruía nossas Embaixadas nesses países a enviar representante para participar da 4a Conferência Nacional de Ciência, Tecnologia e Inovação (4a CNTCI).
 
A Conferência teria o título pomposo de “Política de Estado para Ciência, Tecnologia e Inovação com vista ao Desenvolvimento Sustentável”, e seria realizada em Brasília dali a menos de uma semana. Os convocados deveriam chegar um dia antes do encontro, para um briefing com então Subsecretário-Geral de Energia e Alta Tecnologia do Itamaraty, durante o qual era esperado que apresentassem algumas impressões sobre o tema da Conferência no âmbito dos países em que serviam.

A responsável pelo tema de Ciência e Tecnologia na Finlândia era a Ministra Mônica, que, inclusive, desenvolvia pesquisa sobre o país nórdico como ambiente de inivação. Seria o caso de ela representar a Embaixada, não fosse o fato de ser bem mais complicado, em tão curto espaço de tempo, organizar a logística de uma casa com dois filhos para o período de sua ausência.

No dia seguinte, a Ministra me passou algumas indicações de leituras, e a corrida contra o tempo começou.  Há menos de dois meses no Posto, e mantendo minhas atenções sobre a Estônia, e não sobre a Finlândia, fui introduzido a um emaranhado de intituições, órgãos e suas siglas – AKA, Tekes, VTT -   partícipes, cada um a sua maneira, do esfoço finlandês para promover a pesquisa científica e sua interlocução imediata com o setor produtivo. E, acreditem, a Finlândia aloca bastante energia e recursos para isso…

Enquanto tentava montar resumos, tabelasm diagramas e fluxogramas para entender a estrutura e as políticas de todo um setor de um país, mantinha esforço logístico paralelo para fazer a inscrição na Conferência, superar as burocracias internas do Itamaraty para aquisição do bilhete aéreo – com o sempre traumático formulário de PPV (Providências para Viagem) - e tentar reduzir ao máximo o volume de bagagem – algo sempre complicado quando se trabalha quase sempre de terno.

Foi assim que, sem qualquer improviso, embarquei quatro dias depois do telefonema, entre anotações e ansiedades, surpreendentemente de volta ao Brasil muito antes do que imaginava.

(continua)

segunda-feira, 2 de abril de 2012

sábado, 31 de março de 2012

Querido Papai Noel

Querido Papai Noel,

A Tia Adélia pediu para a gente escrever uma redação sobre as férias. Eu falei para ela que queria escrever uma carta para você, já que eu tinha visitado você nas minhas férias. Ela deixou porque ela é muito legal.

Você sabe que eu moro com meu papai no Brasil, né, Papai Noel?  Mas minha mamãe mora aí perto de você na Finlândia e eu fui passar minhas férias com ela.


Todo mundo diz que eu sou filho de uma tal de Glob... Goblali... Globalização, porque eu nasci em Los Angeles, moro em Brasília e vou passear em Helsinque, mas eu sou filho da mamãe Flávia e do papai Eduardo, não dessa outra moça.

Na casa da minha mãe é muito legal. Ela me ensinou a cozinhar, e me chamava de sous-chef. Ela só não deixava eu mexer com fogo, porque dizia que era perigoso eu me queimar. Eu gostava quando ela botava um negócio na comida e o fogo ficava super alto.

O marido da mamãe é o Dani, e ele é muito bravo. Minha mamãe fala que ele não é bravo, só é sério, porque o trabalho dele deixa ele muito cansado. Às vezes ele jogava videogame comigo e eu achava muito legal. Ele me ensinou as notas no piano, mas eu já esqueci. Ele também me mostrou o filme do C3PO. Ele é engraçado. O Dani e o C3PO.

Uma vez o Dani levou eu e a mamãe para nadar em uma piscina. Era uma piscina dentro de uma casa, Papai Noel!  Eu nunca tinha visto! A água era quentinha, e a gente podia escorregar em umas boias. O Dani pulou de um lugar muito alto. Deve ter doído, porque ele fez uma cara estranha quando saiu da água.


De vez em quando o Tio Lucas vinha brincar comigo também. Ele é muito legal. A gente via desenho na televisão e jogava videogame. O Tio Lucas sempre me dava um biscoito de chocolate que só ele sabia onde comprar. Eu gostava muito dele. Do biscoito e do Tio Lucas.

Minha mamãe me levou para conhecer o William, que tem quatro anos. Eu tenho cinco anos. O William é filho da Tia Maura, que trabalha no trabalho do Dani. Ela deixou a gente ir na sauna, e eu achei muito legal. É quentinho, dá vontade de ficar lá.

A Tia Maura e o Tio Kari levaram a gente para esquiar. O Dani ficava caindo o tempo todo. Eu achei engraçado. Eu gostei um pouco de esquiar, mas gostei muitão de brincar no túnel de gelo com o William.

Perto da minha casa tinha uma montanha de neve bem grandona, e minha mãe me levava lá às vezes para eu brincar com meu esquibunda. O Dani tem muito dinheiro, porque ele me deu um esquibunda e um relógio.


Minha mamãe me dava banho de banheira todos os dias, e eu gostei, porque eu podia brincar com meu barco e com meu patinho de borracha vermelho. Mas eu gostava de verdade era da bomba de espuma que a Tia Maria Clara deu para a minha mamãe, porque eu podia ficar escondido atrás da espuma.

Eu gostei muito das minhas férias porque eu andei de trem, de barco, de bonde e de metrô. Eu que apertava o botão para o bonde parar e para o elevador subir. Para entrar no prédio da mamãe tinha de apertar um recódigo, e eu que apertava.

Eu ajudei a mamãe a montar a árvore de Natal. Ficou muito grande e muito bonita. Tinha bolas coloridas, luzes e umas corujas, porque o Dani gosta muito de corujas. Mas ele não gosta de Natal, então não entendi nada. A gente deixou biscoito e leite para você e você comeu tudo, né, Papai Noel ?

Todo dia a gente desenhava na geladeira uma carinha feliz ou triste, para dizer se eu tinha me comportado ou não. Eu que desenhava as carinhas. Tinha mais carinhas felizes, mas eu ficava triste com as carinhas tristes porque minha mamãe ficava triste também.


Papai Noel, você lembra que minha mamãe me levou para conhecer sua casa? Eu achei muito bonita. A mamãe e a casa. Ouvi o Dani dizer que o nome do lugar onde fica sua casa é Lapônia, e que lá é que inventaram uma tal de lap dance, mas acho que é mentira, porque minha mamãe olhou para ele com a cara feia.

A gente andou no trenó com as renas, escreveu carta no seu correio para o Vovô Messias e para a Vovó Cacilda e para a Vovó Doroti e para o Tio Sérgio e para o Tio Guga, e foi naquele escorregador de gelo. Eu sei porque aquilo chama escorregador, Papai Noel !  É porque a gente escorrega quando tenta chegar perto dele, né?  Eu só fiquei triste porque aqui ninguém acreditou quando eu contei que a gente andou de motinha em cima de um lago congelado, mas você sabe que foi de verdade, né?

Depois a gente foi em um hotel todo feito de gelo. O moço de lá me deu um copinho feito de gelo. Era muito legal, mas eu não queria dormir naquele frio não. Deve ser só de brincadeira.


Aí a gente foi ver um negócio no ceu que eu não entendi bem. Minha mamãe e o Dani e o Tio Bruno e a Tia Carol ficaram um tempão olhando para o ceu porque ia aparecer uma luz verde. Eu achei chato. Ainda bem que eu tinha meu joguinho, porque a luz nem apareceu.

Aqui no Brasil a Tia Adélia e os meus coleguinhas ficam me perguntando se eu fiquei com frio. Frio é legal porque tem neve. Eu não gostava de usar um monte de casaco e luva, mas minha mamãe falou que era importante, e aí eu podia pular na neve. Ela e o Dani ficavam rindo quando eu tentava enfiar a cabeça na neve, mas era muito legal. Meu primeiro gorro favorito era o colorido e meu segundo gorro favorito era o gorro verde.

Estou com saudade da neve, Papai Noel. Da neve e da mamãe. Então eu prometo me comportar e ser um menino bonzinho, para você me dar presente. O presente que eu quero é que as férias cheguem logo de novo, para eu poder voltar a visitar a mamãe.

Cuida direitinho dela para mim, tá?  Da neve e da mamãe. 



Um abraço do

FELIPE.


P.S: As fotos que abrem e fecham este post são de Cristina Rijskamp,
 a quem muito agradeçemos.

terça-feira, 27 de março de 2012

Refeição Urbana

Há pessoas que possuem uma relação afetiva com a comida mais intensa do que seria aconselhável. Além da compulsão por determinados alimentos e do aumento da probabilidade de encontrar-se em condição de sobrepeso ou obesidade, as emoções podem começar a estar associadas à comida. Assim, em vez de fazer um carinho no seu filho ou parceiro, você oferece (ou pede) um chocolate, e acha que está tudo bem.

Ao morar no exterior, essa associação entre comida e afeto tende a intensificar-se. Embora seja possível encontrar boa parte dos produtos necessários para preparar iguarias saudosas – ou improvisar algo de qualidade, em especial quando se é casado com uma alquimista da culinária -, há alguns vazios no coração (estômago?) impossíveis de preencher: seu prato favorito naquele restaurante específico, há vinte anos feito pelo mesmo cozinheiro, que você já conhece pelo nome; o tempero característico da sua mãe (da sua, não da minha, que, farmacêutica, sempre preferiu cozinhar bactérias do que comida);   o cachorro quente vendido na esquina da sua casa ou na saída de sua escola, eventualmente produzido em condições de higiene que só incrementam a explosão de sabores oferecida…


Não foi, assim, com surpresa ou vergonha, que nos pegamos redigindo uma lista de restaurantes, lanchonetes, botecos e quiosques a serem visitados em nossas rápidas passagens de férias no Brasil. Uma verdadeira turnê  de quilos a serem ganhos, que inclui desde pratos típicos do Nordeste até a fast food made in cerrado, passando por um número de idas a churrascarias maior do que recomendado por médicos ou por consultores financeiros.

Hoje, aproveitando um retorno de viagem ao Brasil, e o aniversário - 27 de março – do Trovador Solitário, eu ofereço a vocês nossa singela homenagem aos brasileiros gastronomicamente expatriados:

Há trempes

Parece cocaína, mas é só farinha
talvez seja farofa...
Muitos temores nascem na viagem
e na imigração
A tapioca e o polvilho
temperos são a glória da cozinha brasileira
E há tempos fiz um lanche
fui comendo, fui comendo...
Teu pão de queijo está queimado
e ainda assim acho bonito
Já estamos desacostumados
a comer essas delícias
A fome vem e a fome vai
e o resto é gula mesmo...
Dissestes que um pedaço só
não ia fazer mal
à saudade que se sente
E o cheiro atrairia
todo mundo lá pra casa
Foi a vizinhança inteira...
E há tempos
Lembro tanto da comida
servida requentada
E há tempos eu não como feijão preto
E há tempos o churrasco está ausente
E o pastel foi esquecido
E só o acaso estende os braços
A quem procura
angu e requeijão...
Meu amor!
Cervejinha com batata,
tira gosto, calabresa
Caipirinha é com cachaça
(Ela disse)
Lá em casa tem um pouco
e a panela está quentinha.


PS 1: Agradecimentos a Leandra Felipe e Bruno Santos, coautores de alguns dos versos.
PS 2: Se você é um dos 99,999% dos leitores que não são feitos de madeira, eu não preciso mostrar o link. Mas se você esteve em coma nos últimos 23 anos e não conhece a música original, ilumine-se em: http://www.youtube.com/watch?v=h3zzDSpYPR8.

quinta-feira, 16 de fevereiro de 2012

A21 walk in the Forest


Para celebrar o nosso Golden Jubilee in Months – nome bonito para 50 meses de namoro -  decidimos ignorar o frio que fazia lá fora e fazer um programa tipicamente finlandês: aventurar-nos pela floresta, sentir toda multiplicidade de estímulos da natureza ao nosso redor.

Começamos com uma explosão de frutas vermelhas no céu da boca, seguida de uma sauna que deixou uma deliciosa sensação de frescor e pureza. Ainda preenchidos por esse prazer, saímos de lá para sentir a terra úmida e crocante da floresta, e o cheirinho de ervas molhadas pelo orvalho da manhã.

Cansados da caminhada, fomos tomar um banho nas aguas tranquilas e doces de um riacho que encontramos, aproveitando a beleza natural e a flora de suas margens, pontilhada por milhares de espinheiros marítimos, o que nos lembrou um caviar vegetal. Após o mergulho, para no secar, andamos entre as bétulas, com suas folhas suaves e caule de casca branca acinzentada, de onde bebemos sua seiva e nos deliciamos com o cheiro da sua madeira queimada. Encontramos ali uma pequeno pacote de papel pardo, que, quando aberto, revelou mais raspas da casca daquelas plantas.

Mais à frente, avistamos uma área de brejo, cercada por um campo de cevada. Ao longe, discernimos alguns javalis desfrutando dos arbustos de amora-ártica, com suas frutinhas amarelas e de gosto peculiar.

Já exaustos, mas felizes, decidimos nos deitar nos campos dourados de aveia e experimentar sua fragrância e textura aprazível.

O pequeno detalhe é que isso tudo ocorreu às 7h30 da noite, com uma temperatura de -80C,  e eu usando salto alto...

***

Na verdade, fomos a um restaurante aqui em Helsinque chamado A21 Dining, O lugar conta com quatro ambientes distintos... nossa mesa ficava em um salão totalmente branco, das paredes às cadeiras e toalhas de mesa. Por incrível que pareça, o resultado não foi opressivo, porque as luzes suaves e mornas tornam o ambiente bem aconchegante. 



O restaurante oferece um novo cardápio a cada estação, e o que tivemos chance de aproveitar chama-se “um passeio na floresta”. A ideia é que seja realmente essa a sensação que você tem ao degustar a comida. Pode-se escolher entre menus de 3, 5 ou 8 pratos, todos eles acompanhados por coqueteis especialmente elaborados para harmonizar as sensações gustativas e ofaltivas dos pratos. Nossa aventura teve 5 pratos, e, como bem disse o Daniel... é uma explosão de sabores...


Voltaremos em breve para experimentar o menu da proxima estação, aguardem.


P.S. 1 o Casal Ducci não está recebendo qualquer dinheiro para fazer esse merchan... o lugar merece... (http://www.a21.fi/dining)

P.S. 2 desculpe pelas fotos desfocadas, a emoção era muito grande.