Um dos mantras inescapáveis que
invade os ouvidos dos candidatos
ao concurso do Instituto Rio Branco, ou aos seus alunos recém-aprovados,
conta que tamanho era o reconhecimento das Chancelarias vizinhas à excelência
da diplomacia brasileira, que era comum ouvir entre os colegas que “o Itamaraty
não improvisa”.
Certamente não era nisso que eu pensava naquela quarta-feira à noite.
Estava, provavelmente, navegando à toa na Internet, quando o celular
recém-adquirido soou os acordes do jingle
da BBC, anunciando que alguém do trabalho me ligava. A mobília ainda não havia
sido recebida, e os espaços vazios do enorme apartamento, parcamente
preenchidos com alguns móveis da Ikea,
fizeram o toque ecoar de forma falsamente grandiosa.
O identificador de chamadas mostrava o número de telefone do plantão
consular. O que teria acontecido?
Em tese, eu não era diretamente responsável pela área de atendimento a
brasileiros, mas, como típico Secretário em início de carreira – e creio que esse
privilégio não se resuma a esse primeiro momento - , era passível de
convocação a qualquer momento.
Cecília, nossa Oficial de Chancelaria responsável pelas comunicações do
Posto, me informou sem maiores introduções, de que eu deveria estar em Brasília
na segunda-feira seguinte, chamado a serviço para participar de algum evento
como representante da Embaixada. “Hein?”, elaborei rebuscadamente. Ela não
tinha maiores detalhes naquele momento, mas eu deveria entrar em contato com a
Divisão de Ciência e Tecnologia da Secretaria de Estado.
Feito o contato com Brasília, e após conversar com o Embaixador Armando,
para entender melhor o que acontecia, descobri que o Itamaraty havia
identificado alguns países-chave – entre eles a Finlândia – como potenciais
parceiros prioritários na área de ciência e tecnologia, e instruía nossas
Embaixadas nesses países a enviar representante para participar da 4a
Conferência Nacional de Ciência, Tecnologia e Inovação (4a CNTCI).
A Conferência teria o título pomposo de “Política de Estado para
Ciência, Tecnologia e Inovação com vista ao Desenvolvimento Sustentável”, e
seria realizada em Brasília dali a menos de uma semana. Os convocados deveriam
chegar um dia antes do encontro, para um briefing
com então Subsecretário-Geral de Energia e Alta Tecnologia do Itamaraty,
durante o qual era esperado que apresentassem algumas impressões sobre o tema
da Conferência no âmbito dos países em que serviam.
A responsável pelo tema de Ciência e Tecnologia na Finlândia era a
Ministra Mônica, que, inclusive, desenvolvia pesquisa sobre o país nórdico como
ambiente de inivação. Seria o caso de ela representar a Embaixada, não fosse o
fato de ser bem mais complicado, em tão curto espaço de tempo, organizar a
logística de uma casa com dois filhos para o período de sua ausência.
No dia seguinte, a Ministra me passou algumas indicações de leituras, e
a corrida contra o tempo começou.
Há menos de dois meses no Posto, e mantendo minhas atenções sobre a
Estônia, e não sobre a Finlândia, fui introduzido a um emaranhado de
intituições, órgãos e suas siglas – AKA, Tekes, VTT - partícipes, cada um a sua maneira, do esfoço finlandês
para promover a pesquisa científica e sua interlocução imediata com o setor produtivo.
E, acreditem, a Finlândia aloca bastante energia e recursos para isso…
Enquanto tentava montar resumos, tabelasm diagramas e fluxogramas para
entender a estrutura e as políticas de todo um setor de um país, mantinha esforço
logístico paralelo para fazer a inscrição na Conferência, superar as
burocracias internas do Itamaraty para aquisição do bilhete aéreo – com o
sempre traumático formulário de PPV (Providências para Viagem) - e tentar reduzir
ao máximo o volume de bagagem – algo sempre complicado quando se trabalha quase
sempre de terno.
Foi assim que, sem qualquer improviso, embarquei quatro dias depois do telefonema, entre anotações e ansiedades, surpreendentemente
de volta ao Brasil muito antes do que imaginava.
(continua)
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