segunda-feira, 9 de abril de 2012

Memorabilia: De volta ao Brasil (parte I)

Um dos mantras inescapáveis que invade os ouvidos dos candidatos  ao concurso do Instituto Rio Branco, ou aos seus alunos recém-aprovados, conta que tamanho era o reconhecimento das Chancelarias vizinhas à excelência da diplomacia brasileira, que era comum ouvir entre os colegas que “o Itamaraty não improvisa”.

Certamente não era nisso que eu pensava naquela quarta-feira à noite. Estava, provavelmente, navegando à toa na Internet, quando o celular recém-adquirido soou os acordes do jingle da BBC, anunciando que alguém do trabalho me ligava. A mobília ainda não havia sido recebida, e os espaços vazios do enorme apartamento, parcamente preenchidos com alguns móveis da Ikea, fizeram o toque ecoar de forma falsamente grandiosa.

O identificador de chamadas mostrava o número de telefone do plantão consular. O que teria acontecido?  Em tese, eu não era diretamente responsável pela área de atendimento a brasileiros, mas, como típico Secretário em início de carreira – e creio que esse privilégio não se resuma a esse primeiro momento - , era passível de convocação  a qualquer momento.

Cecília, nossa Oficial de Chancelaria responsável pelas comunicações do Posto, me informou sem maiores introduções, de que eu deveria estar em Brasília na segunda-feira seguinte, chamado a serviço para participar de algum evento como representante da Embaixada. “Hein?”, elaborei rebuscadamente. Ela não tinha maiores detalhes naquele momento, mas eu deveria entrar em contato com a Divisão de Ciência e Tecnologia da Secretaria de Estado.

Feito o contato com Brasília, e após conversar com o Embaixador Armando, para entender melhor o que acontecia, descobri que o Itamaraty havia identificado alguns países-chave – entre eles a Finlândia – como potenciais parceiros prioritários na área de ciência e tecnologia, e instruía nossas Embaixadas nesses países a enviar representante para participar da 4a Conferência Nacional de Ciência, Tecnologia e Inovação (4a CNTCI).
 
A Conferência teria o título pomposo de “Política de Estado para Ciência, Tecnologia e Inovação com vista ao Desenvolvimento Sustentável”, e seria realizada em Brasília dali a menos de uma semana. Os convocados deveriam chegar um dia antes do encontro, para um briefing com então Subsecretário-Geral de Energia e Alta Tecnologia do Itamaraty, durante o qual era esperado que apresentassem algumas impressões sobre o tema da Conferência no âmbito dos países em que serviam.

A responsável pelo tema de Ciência e Tecnologia na Finlândia era a Ministra Mônica, que, inclusive, desenvolvia pesquisa sobre o país nórdico como ambiente de inivação. Seria o caso de ela representar a Embaixada, não fosse o fato de ser bem mais complicado, em tão curto espaço de tempo, organizar a logística de uma casa com dois filhos para o período de sua ausência.

No dia seguinte, a Ministra me passou algumas indicações de leituras, e a corrida contra o tempo começou.  Há menos de dois meses no Posto, e mantendo minhas atenções sobre a Estônia, e não sobre a Finlândia, fui introduzido a um emaranhado de intituições, órgãos e suas siglas – AKA, Tekes, VTT -   partícipes, cada um a sua maneira, do esfoço finlandês para promover a pesquisa científica e sua interlocução imediata com o setor produtivo. E, acreditem, a Finlândia aloca bastante energia e recursos para isso…

Enquanto tentava montar resumos, tabelasm diagramas e fluxogramas para entender a estrutura e as políticas de todo um setor de um país, mantinha esforço logístico paralelo para fazer a inscrição na Conferência, superar as burocracias internas do Itamaraty para aquisição do bilhete aéreo – com o sempre traumático formulário de PPV (Providências para Viagem) - e tentar reduzir ao máximo o volume de bagagem – algo sempre complicado quando se trabalha quase sempre de terno.

Foi assim que, sem qualquer improviso, embarquei quatro dias depois do telefonema, entre anotações e ansiedades, surpreendentemente de volta ao Brasil muito antes do que imaginava.

(continua)

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