domingo, 12 de setembro de 2010

Tende Pietari de nós – Parte 1

As visitas à Finlândia continuaram, o que nos fez ficar muito felizes pelo fato de termos amigos e familiares queridos, que não nos esquecem. Para outros – principalmente aqueles que cobram novos posts, lêem o blog, mas não comentam, – a gente faz um voodoo bem legal.

Recebemos Sarah e Renato, dois grandes amigos (“amigo”, sinceramente, descreve pouco o que os dois são para mim). As aventuras deles por aqui eu comento em outra oportunidade. Em seguida, recebemos Cacilda e Messias, também conhecidos como os pais da Flávia, ou meus sogros. Eles passaram três semanas, mais ou menos, com a gente.

Logo após chegarem a Helsinque, eles e Flávia seguiram para viagens escandinavas. Conheceram Estocolmo e Copenhague. Fizeram uma rápida parada em Helsinque e passaram um dia em Tallinn. Sobre essas viagens, cobrem a co-autora do blog, que não se dignou a colocar uma foto ou comentário online.

Depois de matar a saudade da esposa – esse negócio de ficar longe dela definitivamente não é bom – viajamos os quatro para São Petersburgo – ou Pietari, como dizem os finlandeses -, no dia 3 de setembro. Pegamos o trem “Sibelius” na sexta-feira, logo cedo, e partimos em direção à mother Russia. Eu estava preocupado em conseguir efetivamente aproveitar a viagem – ou, ao menos não atrapalhar muito a dos meus companheiros: uma forte gripe havia me deixado de cama antes da viagem, e eu ainda não havia me recuperado totalmente.

São cinco horas, mais ou menos, de trem até lá. A viagem, em si, não demoraria tanto, não fossem todos os procedimentos de alfândega e imigração. Para os brasileiros, independente do tipo de passaporte, a coisa toda ficou mais fácil, já que, desde meados de 2010, entrou em vigor o Acordo entre o Brasil e a Rússia para a Isenção de Vistos de Curta Duração. Na dúvida e por segurança, levamos uma cópia do Acordo, em russo, no bolso. Entre os Governos decidirem algo e o guardinha de fronteira ficar sabendo e incorporar no dia a dia, às vezes pode levar algum tempo...  No caso da nossa viagem, tanto as autoridades russas quanto finlandesas aparentemente já estavam notificadas, e não houve qualquer problema para atravessarmos a fronteira. 


Viajar em paz, entretanto, está se tornando uma utopia... embora o trem fosse confortável, com cadeiras reclináveis, vagão restaurante bem razoável e companhia muito bem vinda, é difícil ter um mínimo de sossego – ainda mais quando se quer descansar durante o trajeto - quando os pais não controlam suas crianças. No caso do vagão que ocupamos, não bastasse ter duas crianças chorando e urrando boa parte da viagem,  os pais ainda achavam graça quando ela iam perturbar os outros passageiros. Nada contra os piás, que estão fazendo a parte deles...  pais mal educados e despreparados é que são o problema.

Você acha uma gracinha seu filho querer quebrar o recorde de decibeis alcançado por um ser humano?  Vou contar uma novidade para você: não, não é legal. Você acha que a criança deve explorar o mundo e conhecê-lo?  Concordo plenamente, mas não a custa do sossego alheio. Há lugar para tudo, zezinho, inclusive pro seu pestinha aprender a conviver em espaços comuns. Depois, cresce e vira adulto sem noção de coletividade, e você ainda vai achar ruim.

Após uns 40 minutos parados na imigração, para que os passaportes fossem recolhidos, verificados e devolvidos, entramos em território russo. Em termos de paisagem natural, não há grandes mudanças em relação à Finlândia – corredores intermináveis de coníferas se erguem ao lado do trem. Notamos, entretanto, alguns sinais de menor conservação e organização nas construções que vimos.


Devo confessar que não tinha qualquer expectativa especial sobre a cidade. O desejo de conhecer a ex-capital da Rússia foi manifestado pelo Messias, e eu tinha mais interesse em aproveitar o tempo com eles do que propriamente uma curiosidade intrínseca naquele passeio específico. Claro que a faceta de historiador acabou desperta, e todos os filmes sobre espionagem na época da Guerra Fria fizeram com que eu me emocionasse por estar, pela primeira vez, do lado de lá da cortina de ferro.

Havíamos decidido, desde que soubemos da visita dos pais da Flávia, contratar um pacote turístico junto a uma companhia finlandesa. Todos alertavam para o fato de que São Petersbugo não era Helsinque – ou seja, o conhecimento da língua inglesa não era tão difundido, e a cidade não era exatamente o paraíso da segurança mundial. Assim, ao chegarmos à São Petersbugo, nossa guia, Tatjana, uma russa muito educada, com inglês (e francês, e italiano, e um pouco de espanhol, e um pouco de alemão...) fluentes já nos aguardava na plataforma da Finlyandskiy vokzal, ou seja, da estação de trem que recebe os trens vindos da Finlânia e da qual eles partem de volta.

Além de nós quatro, outros dois simpaticíssimos casais australianos se juntaram à nós na excursão. Na saída da Estação, aquela inconfundível e nada saudosa sensação de Terceiro Mundo: um caos de gente pelas calçadas, camelôs, gente querendo abordar os turistas, carros lutando entre si... São Petersbugo está muito mais para Rio de Janeiro do que para Helsinque...

Entramos, não sei exatamente bem como, sãos e salvos em nossa van, e seguimos para nosso primeiro destino. No caminho, pudemos ter uma primeira noção da cidade, e o que posso dizer é o seguinte: grandiosa, grandiosa, grandiosa. Absolutamente de tirar o fôlego, e creio que era essa a ideia do Czar Pedro, o Grande, quando a fundou em 1703. Há um certo ar de decadência em algumas áreas da cidade, mas, mesmo assim, os prédios, palácios e catedrais que se espalham às margens do Neva são belíssimos, imensos, impressionantes. Nosso traslado serviu, igualmente, para percebermos que, se já somos analfabetos na Finlândia, as placas em cirílico só agravam a sensação.  

A primeira parada foi para o almoço, em um restaurante chamado – ora, vejam, que criativo – São Petersburgo. O local era requintado, cheio de espelhos e vitrais, e aconchegante. O que não ornava, nem um pouco, era a trilha sonora de disco music setentista. Fiquei com a impressão, por aquele e por outros cenários da cidade, de que os russos não tiveram acesso a música ruim do chamado “Ocidente” quando era a hora, e agora estão recuperando o tempo perdido. Pelo que lemos nos guias, há show de música folclórica russa todos dos dias, exceto aos domingos, às 21h – deve ser para pagar os pecados do disco inferno.


Durante a refeição, a Flávia se apaixonou pelo visual da sopa que foi servida como entrada: ela vinha dentro de uma cumbuca de barro, coberta por uma massa de pão. A sopa, em si, era de repolho azedo, que a Flávia quer me convencer que era boa. Quando começava a crescer meu medo do prato principal ser à base de frutos do mar, um Frango à Kiev (mas peraí, Kiev não é na Ucrânia???) foi servido para alimentar a turma. Tortinha de frutas vermelhas como sobremesa, e lá fomos nós conhecer a Fortaleza de São Pedro e São Paulo.

(continua)

2 comentários:

  1. Como não entendi bem se esse papo de voodoo é para o meu bem ou para o meu mal, achei melhor escrever... assim ja cobro a parte 2!!

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  2. Ah, para mim sempre será a saudosa Leningrado, e olha que eu nem sou comunista. Mas eu tenho uma tendência a me ater aos primeiros nomes que conheço, como Ducci. Legal saber que continuam seus passeios onde nenhum membro da base jamais esteve. E olha que logo vocês vão poder pedir carteiras de sócios-atletas de Tallinn.

    Imagino como deve ser para quem gosta da história estar numa cidade como essa. Tudo bem que a Estônia é uma ex-república soviética mas concordo que nem se compara da mítica de Lening... Petersburgo

    Agradeço deveras pela deferência e te garanto que posso dizer que o sentimento é mútuo. As referências de Len...St. Perterburgo guardo para um sonho futuro.

    Renato

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