Há pessoas que possuem uma relação afetiva com a
comida mais intensa do que seria aconselhável. Além da compulsão por
determinados alimentos e do aumento da probabilidade de encontrar-se em
condição de sobrepeso ou obesidade, as emoções podem começar a estar associadas
à comida. Assim, em vez de fazer um carinho no seu filho ou parceiro, você
oferece (ou pede) um chocolate, e acha que está tudo bem.
Ao morar no exterior, essa associação entre comida e
afeto tende a intensificar-se. Embora seja possível encontrar boa parte dos
produtos necessários para preparar iguarias saudosas – ou improvisar algo de
qualidade, em especial quando se é casado com uma alquimista da culinária -, há
alguns vazios no coração (estômago?) impossíveis de preencher: seu prato
favorito naquele restaurante
específico, há vinte anos feito pelo mesmo cozinheiro, que você já conhece pelo
nome; o tempero característico da sua mãe (da sua, não da minha, que,
farmacêutica, sempre preferiu cozinhar bactérias do que comida); o cachorro quente vendido na
esquina da sua casa ou na saída de sua escola, eventualmente produzido em
condições de higiene que só incrementam a explosão de sabores oferecida…
Não foi, assim, com surpresa ou vergonha, que nos pegamos
redigindo uma lista de restaurantes, lanchonetes, botecos e quiosques a serem
visitados em nossas rápidas passagens de férias no Brasil. Uma verdadeira
turnê de quilos a serem ganhos,
que inclui desde pratos típicos do Nordeste até a fast food made in cerrado,
passando por um número de idas a churrascarias maior do que recomendado por
médicos ou por consultores financeiros.
Hoje, aproveitando um retorno de viagem ao Brasil, e o
aniversário - 27 de março – do Trovador Solitário, eu ofereço a vocês nossa singela
homenagem aos brasileiros gastronomicamente expatriados:
Há trempes
Parece cocaína, mas é só farinha
talvez seja farofa...
Muitos temores nascem na viagem
e na imigração
A tapioca e o polvilho
temperos são a glória da cozinha brasileira
E há tempos fiz um lanche
fui comendo, fui comendo...
Teu pão de queijo está queimado
e ainda assim acho bonito
Já estamos desacostumados
a comer essas delícias
A fome vem e a fome vai
e o resto é gula mesmo...
Dissestes que um pedaço só
não ia fazer mal
à saudade que se sente
E o cheiro atrairia
todo mundo lá pra casa
Foi a vizinhança inteira...
E há tempos
Lembro tanto da comida
servida requentada
E há tempos eu não como feijão preto
E há tempos o churrasco está ausente
E o pastel foi esquecido
E só o acaso estende os braços
A quem procura
angu e requeijão...
Meu amor!
Cervejinha com batata,
tira gosto, calabresa
Caipirinha é com cachaça
(Ela disse)
Lá em casa tem um pouco
e a panela está quentinha.
PS 1: Agradecimentos a Leandra Felipe e Bruno Santos, coautores de
alguns dos versos.
PS 2: Se você é um dos 99,999% dos leitores que não são feitos de
madeira, eu não preciso mostrar o link. Mas se você esteve em coma nos últimos
23 anos e não conhece a música original, ilumine-se em: http://www.youtube.com/watch? v=h3zzDSpYPR8.
Esses versos tocaram a alma:
ResponderExcluir"E há tempos o churrasco está ausente
E o pastel foi esquecido..."!
Muito bacana a versão, acabei cantando pra Patricia aqui do lado! Abs
Ah, que ótimo!!!!!!!!!!!!!
ResponderExcluirDei sorte de achar feijão preto na Índia, de trazer 20 kilos de farinha de mandioca amarela (alguns ainda vivem) e de, na Argentina, ter sido visitado e poder cobrar uns cafés, umas goiabadas e paçocas de pedágio!
Adorei!!!!! E o pastel foi esquecido! Super... ai me deu fome :)
ResponderExcluirEste comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirSua verve paródico-musical segue afiada! Até acho que daria boa seção do blog! (comentário anterior retirado para correção do analfabetismo do comentarista).
ResponderExcluirAbs!!
Fez-me lembrar da época em que morei 2 anos na Espanha e morria (mataria, talvez !?!) por conseguir um pouco de REQUEIJÃO.
ResponderExcluirAbçs.