quarta-feira, 26 de junho de 2013

Memorabilia: Medo do ~




Um calor latino em Helsinque, mas o post de hoje relembra um dos dramas do inverno... 

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Eu tenho medo do  ~.

No começo, eu mal o percebia por lá. Um sinal tão pequeno, inofensivo, de significado difuso. Com o passar dos meses e dos anos, entretanto, fui sendo tomado por um incômodo instantâneo toda vez que o discernia, discreto, mas brutal. Basta vê-lo por lá e uma carga inversamente proporcional a seu diminuto tamanho aloja-se sobre os ombros, como naqueles dias em que, independente de termos dormido bem, sentimos o cansaço acumulado de todas as gerações humanas. Um inseto, um micróbio com sua pequena ondulação, seu gingado Niemeyer, seu balacobaco incerto.

Não se confunda, não falo do til, sinal que serve para anasalar as vogais e tornar um tanto de palavras do português impronunciáveis de forma correta para os estrangeiros – os finlandeses inclusive. Meu problema é com o ~ da matemática, aquele que mostra uma coisa não é igual a outra, é só “aproximadamente igual”. A vida já tem indefinições demais para eu precisar de um ~ a mais para me perturbar.

Fosse respeitoso, apenas indicação de que as coisas não são tão precisas, de que, mesmo com todo esforço e atenção, as variáveis podem escapar do nosso controle, o ~ seria, para mim, um sinal considerado digno de louvor, passível de ser tatuado de forma estilizada como sábia mnemônica. Mas não...  O sigil infeliz significa apenas que a informação a seguir é uma ficção para criar esperanças aos menos esclarecidos, para gerar átimos de uma paciência falsa onde passado e futuro já estão estáticos, para manter sobre controle quem prefere ignorar o caos.

E se você me acha intolerante, implicante com o pobre  ~, que está por lá apenas fazendo o serviço dele, coitado, sugiro que experimente encontrar, após uma caminhada claudicante pelo chão que mistura neve, gelo, areia e lama, com um bilhão de asteriscos formigando seu rosto e seus olhos, esperando por você, no aviso eletrônico do ponto de bonde mais próximo: ~8 !


Aquele sorriso torto, dizendo que a próxima opção para escapar dos menos vinte e dois Celsius chega a “aproximadamente oito minutos”, vai fazer você rever seus conceitos sobre infinitude, eu prometo... 

Um comentário:

  1. Excelente texto, pena que a motivação tenha sido decorrente de tanto frio... "Seu gingado Niemeyer" foi hilário.

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