Um calor latino em Helsinque, mas o post de hoje relembra um dos dramas do inverno...
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Eu tenho medo do ~.
No começo, eu mal o percebia
por lá. Um sinal tão pequeno, inofensivo, de significado difuso. Com o passar
dos meses e dos anos, entretanto, fui sendo tomado por um incômodo instantâneo
toda vez que o discernia, discreto, mas brutal. Basta vê-lo por lá e uma carga
inversamente proporcional a seu diminuto tamanho aloja-se sobre os ombros, como
naqueles dias em que, independente de termos dormido bem, sentimos o cansaço
acumulado de todas as gerações humanas. Um inseto, um micróbio com sua pequena
ondulação, seu gingado Niemeyer, seu balacobaco incerto.
Não se confunda, não falo do
til, sinal que serve para anasalar as vogais e tornar um tanto de palavras do
português impronunciáveis de forma correta para os estrangeiros – os
finlandeses inclusive. Meu problema é com o ~ da matemática, aquele que mostra
uma coisa não é igual a outra, é só “aproximadamente igual”. A vida já tem
indefinições demais para eu precisar de um ~ a mais para me perturbar.
Fosse respeitoso, apenas
indicação de que as coisas não são tão precisas, de que, mesmo com todo esforço
e atenção, as variáveis podem escapar do nosso controle, o ~ seria, para mim,
um sinal considerado digno de louvor, passível de ser tatuado de forma
estilizada como sábia mnemônica. Mas não...
O sigil infeliz significa apenas que a informação a seguir é uma ficção
para criar esperanças aos menos esclarecidos, para gerar átimos de uma
paciência falsa onde passado e futuro já estão estáticos, para manter sobre
controle quem prefere ignorar o caos.
E se você me acha intolerante,
implicante com o pobre ~, que está por
lá apenas fazendo o serviço dele, coitado, sugiro que experimente encontrar,
após uma caminhada claudicante pelo chão que mistura neve, gelo, areia e lama,
com um bilhão de asteriscos formigando seu rosto e seus olhos, esperando por
você, no aviso eletrônico do ponto de bonde mais próximo: ~8 !
Aquele sorriso torto, dizendo
que a próxima opção para escapar dos menos vinte e dois Celsius chega a
“aproximadamente oito minutos”, vai fazer você rever seus conceitos sobre
infinitude, eu prometo...
Excelente texto, pena que a motivação tenha sido decorrente de tanto frio... "Seu gingado Niemeyer" foi hilário.
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