domingo, 2 de maio de 2010

Carnavappu

Agora vejam a pobre da Havis Amanda no dia 30 de abril, às 6 horas da tarde...


Colocar o chapeu na estátua, exatamente nesse horário, marca o início oficial das festividades do Vappu, ou Noite de Walpurgis. O Vappu é um daqueles eventos do calendário, como o Natal, que mistura as crenças pagãs de celebração da chegada da primavera (e, portanto, da luz, que espantava os maus espíritos), com apropriações do cristianismo primitivo e do catolicismo medieval, e uma cereja de cunho político operário do século XIX.

O nome vem de Santa Walpurga (sogro, qual o nome dessa santa em português?), nascida em Devon, no século VIII, e que teria viajado pela França para ajudar seu tio São Bonifácio a catequizar o país. Quando foi canonizada, em 870, seus restos mortais foram levados para Eichstätt, na Bavária (momento Falkenstein), em um dia 1o de maio, que acabou ficando marcado como seu dia no calendário da Igreja Católica.

Não se trata de dia de festa apenas na Finlândia.  Por toda a Europa, em especial a Europa Central e Nórdica, há celebrações do fim do inverno, e da expulsão/derrota das bruxas (coitado do Sagrado Feminino...). Há o Volbriöö seguido do Kaatripäev estoniano, o Pálení čarodějnic tcheco, o Valborg sueco... todos variações do mesmo tema. Mas as bruxas que eu sei que foram vencidas nesse dia foram Hitler e Goebbels...

Aqui na Finlândia a coisa começa, como eu disse, com uma multidão pela Eteläesplanadi e na Kaartinkaupunki. Parece que todos os habitantes de Helsinki, quiçá da Finlândia, vão para as ruas, com perucas, fantasias, balões e roupas coloridas. Até o gerente do nosso apart começou o dia nos presenteando com duas garrafas de espumante e vários rolos de serpentina. Inevitável não comparar com o carnaval brasileiro, também pelos sorrisos e pelo espírito animado, algo um pouco mais atípico aqui do que em Pindorama. Não há muita música, nem balacobaco, nem telecoteco, nem ziriguidum. E é interessante estar numa multidão razoavelmente comportada, em que ninguém se atropela à cotoveladas, muito menos rouba sua carteira.

Boa parte da bagunça da sexta-feira é estimulada pelos estudantes, em especial os formandos. Cada curso universitário se veste com um macacão de cor diferente, coberto de patrocínios, adesivos, emblemas e outros símbolos coloridos ao gosto do cliente. Muitas pessoas – mesmo as que já não são estudantes há anos – saem pelas ruas usando chapeus brancos, parecidos com quepes, que indicam que são formados. Esses chapeus correspondem aos nosso capelo, com a diferença é que, aparentemente, eles não devolvem para a loja de aluguel depois de formados. Após cobrirem a Amanda, a multidão se dispersa pela cidade, mas continua celebrando nos bares, nas ruas, nos parques. Tudo com direito à muito álcool.

A mäarmötta finlandesa continua no dia seguinte, onde uma multidão ainda maior de pessoas, vindas de várias partes, disputa espaços nos parques da cidade para fazer um piquenique. O lugar mais tradicional para o convescote é justamente Kaivopuisto, a área da cidade onde fica a Embaixada do Brasil. Entendam apenas que “piquenique” não deve ser entendido aqui como um lanchinho com sucos, frutas, saladas e carnes frias, ou pães e queijos. O esquema aqui é profissional, com direito a verdadeiros banquetes, muitos amigos, gritos a cada vez que o sol ameaça a sair detrás das nuvens e – claro – mais bebida alcoólica ainda.

Quanto ao dia do trabalho, os protestos por melhores condições de emprego, ou por uma globalização mais justa, em sua leitura pós-Castells... bem, não vi isso aqui não, em lugar nenhum. ‘Você viu, Flávia?’.  ‘Não!’

A irreverência do dia anterior continua (e acredito até que aumente). Flávia e eu fomos conferir de perto, vivenciar um pouco essa experiência de müuvukka, e conhecer alguns nativos a mais. Vocês podem conferir a galeria de fotos clicando aqui  (sim, aquilo é uma sauna móvel levada para o meio do parque).

3 comentários:

  1. Realmente... o negócio é uma muvuca!
    (PS: Complicada essa língua aí. Tem até 'cê' com sobrancelhas e 'e' com anteninhas.)

    Beijos pra vcs.

    Cristiano

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  2. Inspirado no Comentário de seu amigo acima Daniel, pergunte pra Flávia se a acentuaçao não evoca (ainda que inconscientimente) certa colunista de nossa cidade natal?

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  3. Ola casal. Estou tambem morando em Helsinki e hj pude conferir o "carnaval" finlandes. Eu e meu marido somos medicos e chegamos ha 1 semana( ainda bem perdidos....)
    Abracos e Parabens pelo blog!!

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